Na volta das férias, encontrei sobre a mesa um livrinho colorido de 16 páginas, com o título Cartilha Escola para Todos – Nanismo e o subtítulo Valorizando a diversidade. Vinha acompanhado de um cartão da jornalista Lelei Teixeira, que tomo a liberdade de reproduzir aqui: "Viver em harmonia com a nossa diferença é o que buscamos. Por isso escrevo, falo e apoio ações como a de Vélvit Severo, criadora desta cartilha sobre o nanismo. Nosso desejo é que chegue às escolas e que as crianças tomem contato com o cotidiano de uma criança com nanismo, de forma natural, simples e lúdica. Um abraço".
Sendo indicação da Lelei, não titubeei e, em poucos minutos, mergulhei na história do primeiro dia de aula de Théo, um menino mais baixo do que os coleguinhas de classe, e na forma natural como conta à professora que tem nanismo. Diante da curiosidade das outras crianças, a professora explica o que é nanismo e aproveita para falar de diferenças. Aprendi que 70% das crianças com nanismo nascem de pais com altura média. Ou seja, qualquer casal está sujeito e a ter um filho com essa mutação.
O livreto emociona pela simplicidade e pela forma como trata o que poderia ser motivo de bullying. Sem mencionar a história da Branca de Neve e dos Sete Anões, a autora oferece explicação científica descomplicada e dá uma aula de inclusão.
Não poderia haver ninguém mais indicado do que Lelei para divulgar a cartilha: ela tem pouco mais de um metro de altura. Conheço-a desde 1986, quando fomos colegas de trabalho pela primeira vez. Meus filhos a viram pela primeira vez na Feira do Livro, comportaram-se com naturalidade e só em casa quiseram saber por que eu tinha uma amiga do tamanho deles. O apartamento em que morava com a irmã lembrava uma casinha de bonecas, com tudo adaptado à baixa estatura das duas. Lelei sabe do que fala: o nanismo não a impediu de ser uma profissional competente, seja como produtora, seja como assessora de comunicação e, agora, blogueira. Seu trabalho pode ser conferido em issonaoecomum.sul21.com.br.
Pelo material de divulgação que acompanha a cartilha soube que o grupo envolvido no trabalho é formado por pessoas que convivem cotidianamente com o nanismo – ou porque têm a mutação no DNA, ou porque os filhos têm ou porque estão engajados na luta por acessibilidade e inclusão. Vélvit, designer gráfica em Rio Grande, é mãe de Théo Severo Huckembeck, de quatro anos. Flávia Berti Hoffmann, proprietária de uma editora de livros em Caxias do Sul, mãe de Bernardo. Kênia Rio, presidente da Associação de Nanismo do Estado do Rio de Janeiro. Liana Homes, representante do Nanismo em Santa Catarina. Lilian e Vanderlei Link, de Pelotas, completam o time que se juntou há mais de dois anos para criar a cartilha que deveria (alô, secretários e ministro da Educação) ser oferecida em todas as escolas do Brasil.