A 20 dias de encerrar seu mandato de senadora e assumir uma cadeira de deputada federal, Gleisi Hoffmann tornou-se uma caricatura dos equívocos do PT. Sua viagem à Venezuela para representar o partido na posse de Nicolás Maduro, e o discurso que fez para justificar a presença no ato, são reveladores da desconexão com a realidade, doença que se manifestou em diferentes momentos da campanha eleitoral.
Gleisi não entendeu o recado das urnas e se recusa a fazer a revisão que outros líderes de esquerda já fizeram. De olhos vendados e tampão nos ouvidos, metaforicamente falando, a presidente do PT não percebeu que a crise humanitária da Venezuela é provocada pela teimosia de Maduro em permanecer no poder, mesmo com todas as evidências de que seu tempo passou.
A presidente do PT ignora as hordas de migrantes que fogem da fome e da ditadura comandada por Maduro. Com sua cegueira ideológica, Gleisi acorrenta o PT a uma figura que aniquilou a oposição, pisoteou a liberdade de expressão, dominou o Judiciário, desrespeitou os direitos humanos, afundou a Venezuela com seu populismo inconsequente e conquistou novo mandato em uma eleição marcada por irregularidades.
Sobrou para Gleisi críticas de seus companheiros de partido, como o ex-governador Tarso Genro, que disse à jornalista Silvana Pires que “a ida à posse não ajuda a reconstrução da imagem do PT”. Mais contundente, o prefeito de Taquari, Emanuel de Jesus, reeleito em 2016, diz que o PT precisa fazer profunda revisão, se não quiser se transformar num coadjuvante nas próximas eleições.
Até a deputada eleita Luciana Genro, que deixou o PT depois de um embate com José Dirceu e fundou o PSOL para ser um partido mais à esquerda, usou as redes sociais para alfinetar a senadora paranaense. No Twitter, escreveu: “Gleisi vai representar o PT na posse do Maduro. Dando uma mãozinha para aqueles que querem liquidar a esquerda. Mas só uma esquerda mofada para apoiar Maduro a essas alturas. Há muito tempo deixou de ser um governo progressista. E o pior é que a oposição forte é burguesa e elitista”.