A necessidade de construir maioria que lhe permita aprovar propostas indigestas na Assembleia explica a arquitetura do secretariado de Eduardo Leite. Em vez de montar uma seleção de especialistas, como gostariam seus eleitores, o futuro governador rendeu-se à lógica das composições políticas e colocará em campo um time misto, com poucas estrelas, alguns ilustres desconhecidos e improvisos reveladores da dificuldade de compor uma equipe homogênea. Será necessário um manual de instruções para entender certas indicações, sobretudo as apresentadas na última leva.
Logo depois da eleição, Leite citou as pastas que não deveriam entrar na negociação com os partidos. Fazenda, Planejamento, Segurança, Saúde e Educação estavam entre as protegidas. As dificuldades começaram logo nos primeiros contatos: o salário bruto de R$ 18.991,69 (pago com atraso) não era competitivo para tirar um especialista do setor privado. O dinheiro foi um dos motivos que levaram o delegado aposentado da Polícia Federal José Mariano Beltrame a recusar o convite para ser secretário da Segurança.
Com o não de Beltrame, Leite optou por uma solução caseira e indicou o vice-governador Ranolfo Vieira Jr. para ocupar o cargo por um ano e estruturar a política de segurança pública. À última hora, por não encontrar o candidato com o perfil desejado, Ranolfo teve de abraçar também a Secretaria de Administração Penitenciária, recusada pelo deputado eleito Luciano Zucco (PSL).
De fora, vieram dois técnicos de comprovada qualificação: o secretário da Fazenda,Marco Aurélio Cardoso, emprestado pelo BNDES, e a secretária de Planejamento, Leany Lemos, cedida pelo Senado. Com autorização de Leite, a Agenda Brasil do Futuro abriu um processo seletivo para recrutar os secretários da Saúde e da Educação, mas nos dois casos a escolha foi caseira, e surpreendente.
A Saúde será comandada por Arita Bergmann, ex-secretária de Leite em Pelotas, que inicialmente rejeitava a ideia de assumir cargo no governo. A grande surpresa foi a escolha de Faisal Karam para a Educação. Ex-prefeito de Campo Bom e suplente de deputado estadual pelo PSDB, Faisal não tem vinculação com a área. Foi escolhido pela experiência como gestor.
– Ele tem boa capacidade, é administrador e tem fôlego político – justificou Leite à coluna.
O governador pretende compensar a falta de intimidade de Faisal com a pasta oferecendo “suporte técnico robusto”, com a escolha de especialistas para as diretorias.
Com os 23 cargos de primeiro escalão, mais o espaço a ser oferecido aos partidos na segunda camada do governo, Leite contará, a partir de fevereiro, com uma base de 40 deputados. Das 17 bancadas, só PT, PDT e PSOL, que somam 13 cadeiras, estarão na oposição. Com dois representantes, o Novo não ocupará cargos, mas deve votar com o governo em questões pontuais, caso da emenda que retira a exigência de plebiscito para privatizar estatais.