Vencer a eleição para governador aos 33 anos de idade por 53,58% a 46,42% foi a parte mais fácil para Eduardo Leite, se comparada com os desafios que terá de enfrentar ainda antes da posse, em 1º de janeiro. Desde o início da campanha, o ex-prefeito de Pelotas teve o vento soprando a seu favor. Em uma eleição pautada pelo desejo de mudança, conseguiu se credenciar como a novidade, deixando para trás, no primeiro turno, Jairo Jorge (PDT) e Miguel Rossetto (PT), que na largada estavam tecnicamente empatados com ele.
A primeira vitória de Leite foi construir uma aliança sólida, derrubando as previsões dos líderes do MDB, de que ficaria isolado. Já com a campanha em andamento, ganhou o reforço do PP, que teria Luis Carlos Heinze como candidato, e livrou-se de um concorrente competitivo.
No segundo turno, o tucano levou vantagem desde a primeira pesquisa por concorrer com o governador, que tinha o ônus de defender um Rio Grande do Sul engessado pela crise, com salários de servidores atrasados e poucas realizações para mostrar. Na campanha se vende esperança, e Sartori não conseguiu convencer a maioria dos eleitores de que um segundo mandato não seria mais do mesmo. Até por essas dificuldades, ter chegado ao segundo turno e obtido 2,7 milhões de votos na eleição deste domingo é uma vitória política para o emedebista.
Com uma rara capacidade de comunicação, Leite conquistou pessoas que nunca tinham ouvido falar dele. Normalmente, a rejeição cresce à medida em que sobem as intenções de voto, mas com ele isso não ocorreu.
Seu índice mais alto de rejeição foi de 15% na pesquisa do Ibope divulgada no sábado – menos da metade dos que declaravam que não votariam no governador de jeito nenhum. Por ter sido apenas vereador e prefeito de Pelotas, Leite foi chamado de inexperiente. Por ter reclamado das notícias falsas e de montagens contra ele divulgadas nas redes sociais, o governador tentou colar nele o rótulo de “chorão”, que se vitimiza para conquistar eleitores.
Como estavam do mesmo lado na eleição presidencial, o MDB adotou uma estratégia que se revelou equivocada: declarar apoio irrestrito e colar a imagem de Sartori na de Jair Bolsonaro, imaginando tirar votos de Leite entre os eleitores conservadores, já que o adversário fez uma declaração de voto cheia de ressalvas a declarações e atitudes do candidato do PSL. Deu errado porque, ao criar a figura do “Sartonaro”, o MDB jogou nos braços de Leite uma parcela significativa do eleitorado que pretendia anular o voto.
Se Leite perdeu votos que tinha recebido no primeiro turno, compensou com a conquista de eleitores de Fernando Haddad que “taparam o nariz e apertaram 45”, como definiu o presidente do PT de Porto Alegre, Rodrigo Dilelio.
Até o último momento, a equipe de Sartori acreditava que as pesquisas estavam erradas e que ele seria reeleito. Contados os votos, o governador fez um discurso conciliador, de respeito às urnas, e deixou margem para o apoio do seu grupo ao vencedor quando estiverem em jogo os interesses do Estado.
Passadas as comemorações da vitória, Leite começa a enfrentar os problemas reais de quem vai administrar um Estado falido. Para evitar uma queda acentuada de receita, precisa negociar com o atual governo e com a Assembleia a aprovação, o mais rápido possível, de um projeto prorrogando por dois anos as atuais alíquotas de ICMS. Para isso, contará com o apoio de prefeitos que perderão dinheiro se as alíquotas não forem renovadas.
Na campanha, Leite prometeu colocar os salários em dia até o final do ano, tarefa praticamente impossível, considerando-se que o 13º salário deste ano ficará para 2019 e que não haverá dinheiro para quitar, dentro do ano, a folha de dezembro.
CRÉDITOS À EQUIPE
A vitória de Eduardo Leite tem as digitais do publicitário Fábio Bernardi, que não só coordenou o marketing da campanha, como tornou-se um dos conselheiros do candidato nos momentos mais delicados.
Na produção dos programas esteve a jornalista Tânia Moreira, que coleciona sucessos: esta é a sua quinta campanha vitoriosa. A última tinha sido a de Nelson Marchezan, em Porto Alegre.Bernardi resume o segredo do sucesso:
– Um diferencial dessa campanha foi que montamos uma mesa integrada. Outro ponto de destaque: respondemos mais de 120 mil mensagens de WhatsApp na campanha.
A TROPA DE CHOQUE DE LEITE
Embora tenha passado a campanha pedindo aos aliados que não tratassem de secretariado até a contagem do último voto, Eduardo Leite tem conversado com alguns conselheiros sobre o perfil que deseja para a equipe. A ideia é montar um time de elite, com políticos e técnicos de reconhecida competência.
Preferido para a Fazenda, Aod Cunha tem compromissos com empresas privadas e vai apenas ajudar informalmente o tucano. Na área de segurança, um dos principais conselheiros é o coronel João Carlos Trindade, que comandou a Brigada Militar no governo de Yeda Crusius. Um dos sonhos de Leite seria ter o professor Jorge Audy como o homem da inovação.
Dos atuais secretários, o futuro governador é fã de Ana Pellini, que modernizou as licenças ambientais.
Sondada para integrar o governo de Eduardo Leite, a secretária executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, respondeu que não teria como dar essa guinada em sua vida, mas se dispôs a encontrar bons técnicos para ajudar o eleito.