Por ter recebido de Jair Bolsonaro carta branca para falar de economia, Paulo Guedes acabou provocando um princípio de incêndio na campanha ao anunciar o plano de criação de um imposto, nos moldes da CPMF, para financiar a Previdência. Não que a ideia seja ruim, mas falar de qualquer coisa parecida com a CPMF em campanha eleitoral é como falar de corda em casa de enforcado.
Hospitalizado, Bolsonaro publicou um tuíte pela manhã – e o fixou no topo do perfil – para tentar tranquilizar seus eleitores: “Nossa equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente. Esse é o Brasil que queremos!”. Perto das 21h, tuitou outra mensagem tentando reduzir os estragos provocados pela repercussão da notícia: "Ignorem essas notícias mal intencionadas dizendo que pretendermos recriar a CPMF. Não procede. Querem criar pânico pois estão em pânico com nossa chance de vitória. Ninguém aguenta mais impostos, temos consciência disso. Boa noite a todos."
Mais direto, o candidato a vice, general Hamilton Mourão, classificou a sugestão de recriar a CPMF com outro nome, revelada na coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, como um “tiro no pé.
No início da campanha, Bolsonaro costumava responder às perguntas sobre economia em tom de brincadeira:
– Isso tem de perguntar lá no Posto Ipiranga. Paulo Guedes é meu Posto Ipiranga.
Com esse poder, é natural que qualquer declaração do economista, que será o ministro da Fazenda se Bolsonaro for eleito, tenha repercussão imediata.
Nesta quarta-feira (19), em entrevista ao jornal O Globo, Guedes confirmou que o comando da campanha analisa a criação de um imposto sobre transações financeiras, que substituiria outros tributos federais. Garantiu que a medida não significaria aumento de carga tributária.
A primeira versão do projeto de reforma tributária, que inclui a criação de uma alíquota única de 20% para o Imposto de Renda, foi apresentada a um seleto grupo reunido pela GPS Investimentos, especialista em gestão de grandes fortunas. O economista Marcos Cintra, da equipe de Guedes, confirmou à Folha de S.Paulo que o novo imposto se chamaria Contribuição Previdenciária (CP) e seria destinado a financiar as atuais aposentadorias.
Esse não é o primeiro episódio em que ficam evidentes as divergências de ponto de vista na campanha, a maioria delas envolvendo o general Mourão. Quando Bolsonaro colocou em dúvida a credibilidade da urna eletrônica, Mourão pediu que relevassem a declaração, porque ele estava fragilizado depois de duas cirurgias. Um dia depois, classificou como fake news um boato disseminado pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do candidato, de que a Justiça Eleitoral teria repassado o código-fonte da urna eletrônica à Venezuela. O general estava certo.
As relações com o PSL também são delicadas, para dizer o mínimo. Falastrão, o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, por exemplo, foi escanteado depois das entrevistas que deu após o atentado em Juiz de Fora.
Com Bolsonaro internado e sem um coordenador oficial da campanha, falta um interlocutor que esclareça qual é plano de governo e o que é a ideia de Guedes, sujeita à aprovação do candidato.