Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a ministra Rosa Weber teve de entrar em campo ontem para defender uma obviedade: a credibilidade da urna eletrônica. A reação da ministra foi uma resposta ao candidato Jair Bolsonaro, que no domingo fez transmissão ao vivo, do hospital, aventando a possibilidade de fraude na eleição. Entre seus seguidores, é recorrente a teoria conspiratória de que, por não haver impressão do voto, o resultado pode ser adulterado.
Em uma manifestação leviana, o candidato afirmou:
– A grande preocupação realmente não é perder no voto, é perder na fraude. Então essa possibilidade de fraude no segundo turno, talvez até no primeiro, é concreta.
Com a multiplicação das manifestações nas redes sociais, Rosa Weber achou por bem repetir o que havia dito na véspera o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli: as urnas eletrônicas são auditáveis e “absolutamente confiáveis”:
– Temos 22 anos de utilização de urnas eletrônicas. Não há nenhum caso de fraude comprovado. As pessoas são livres para expressar a própria opinião, mas quando essa opinião é desconectada da realidade, nós temos que buscar os dados da realidade.
As suspeitas começaram em 2014, levantadas por Aécio Neves, que não se conformava com o resultado da eleição, já que perdera para Dilma Rousseff por uma estreita margem de votos.
O PSDB questionou e o TSE abriu todos os dados. Depois de um ano, concluiu-se que nada havia de errado com as urnas eletrônicas. Recentemente, Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB, afirmou que questionar o resultado da eleição foi um erro “memorável”.
No TRE-RS, o presidente Jorge Dall’Agnol também está preocupado em tranquilizar os eleitores:
– O sistema é usado desde 1996 e nunca teve problemas. O eleito não pode se deixar levar por essas fake news.
Nesta terça-feira, pela segunda vez em dois dias, o vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, veio a público para contestar as teorias conspiratórias sobre a urna. Mourão desmentiu um boato disseminado pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do candidato, de que o TSE entregou códigos de segurança das urnas eletrônicas para a Venezuela.
– Não. É fake. Isso aí é fake news, lógico. Minha gente, pelo amor de Deus. Os coitados dos venezuelanos não têm nem o que comer, pô – disse o general.
O TSE já desmentiu incontáveis vezes essa balela, mas o boato se multiplica sem prova ou base na realidade.
Aliás
Diante do aumento da boataria, a Justiça Eleitoral veio a público novamente e divulgou nota oficial ontem reiterando que nunca entregou códigos-fonte da urna eletrônica para qualquer empresa privada, seja estrangeira ou nacional.
Leia a nota completa do TSE sobre os códigos-fonte:
"A Justiça Eleitoral esclarece que nunca entregou códigos-fonte da urna eletrônica para qualquer empresa privada, seja estrangeira ou nacional.
Esse dado pode ser comprovado no Edital nº 106/2017, cujo objeto é a contratação de módulos impressores para a urna eletrônica. Em momento algum do documento, está prevista a entrega dos códigos das urnas, especialmente os módulos criptográficos, que são os responsáveis por garantir a identidade e a segurança do processo eleitoral.
Em virtude da Lei n°13.488/2017 – a chamada Minirreforma Eleitoral, que previu a impressão dos votos –, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) precisou promover ajustes para se adequar à nova determinação legal.
Assim, o TSE publicou edital com vistas a contratar os módulos impressores, que seriam acoplados nas atuais urnas eletrônicas para gerar a versão em papel do voto depositado eletronicamente.
Nesse sentido, o Edital nº 106/2017 prevê apenas o fornecimento de parte do Sistema Operacional Linux – que por natureza é um sistema de código aberto e de conhecimento público –, que no caso da Justiça Eleitoral foi adequado para funcionamento específico nas urnas eletrônicas.
Vale ressaltar que a Smartmatic, empresa referida, foi desclassificada do processo licitatório por não atender a requisitos técnicos estabelecidos no edital. Dessa forma, a Justiça Eleitoral não manteve nenhum tipo de relacionamento com a empresa em questão no que se refere a esse objeto.
Todos os esforços da Justiça Eleitoral são e sempre serão no sentido de garantir a lisura e a transparência do processo eleitoral, com vistas a garantir o exercício da cidadania e do direito constitucional ao voto direto e secreto".