Especialista em auscultar o sentimento do eleitor do Rio Grande do Sul há mais de duas décadas, a socióloga Elis Radmann, dona do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), apresentou na quarta-feira (8) na Federasul um quadro desolador: a descrença é uma das marcas desta eleição.
Resultado do baixo índice de confiança no Congresso e no governo, a desesperança se materializa na intenção de votar em branco, anular o voto ou simplesmente ficar em casa no dia da eleição. Nada menos do que 33,9% dos eleitores se autoenquadram na categoria dos decepcionados.
O estudo conduzido pelo IPO com pesquisas quantitativas e qualitativas oferece seis possibilidades de enquadramento para que o eleitor diga com qual categoria se identifica.
Os esperançosos somam 38,1%. São eleitores que, em cada eleição, procuram um candidato em que possam acreditar. Votam em pessoas e não em partidos. A pesquisa mostra que o desencanto é maior na Região Metropolitana (42,3%). Em Porto Alegre, o índice de descrença é de 37,7%.
O eleitor prático responde por 9,9% dos entrevistados. É o sujeito que avalia a conjuntura e vota em alguém que tenha viabilidade, condições de executar o que propõe e ofereça menor margem de risco. Logo depois vem o ideológico (8,4%), que tem uma visão de mundo e acredita em ideais e princípios. Vota por critérios políticos: partido, interesse de categoria, proposição do candidato ou direito de uma minoria. São eleitores que dificilmente trocam o voto por influência da propaganda.
O IPO identificou um segmento que explica por que, não raro, as pesquisas de intenção de voto, mesma feitas na fase final da campanha, erram. São 8,3% os que deixam para escolher o candidato na última hora e, muitas vezes, pedem cola a amigos e familiares. Há, por fim, um pequeno grupo (1,4%) que confessa votar no candidato que possa resolver um problema ou lhe trazer um benefício.
Elis dá pouco valor às pesquisas de intenção de voto realizadas até agora. Com a ajuda de sondagens que mergulham na cabeça do eleitor, garante que elas são um retrato distorcido do momento e que a opinião só se cristaliza depois de pelo menos cinco programas eleitorais. Por essa lógica, somente lá pela metade de setembro se terá mais clareza de quem tem ou não chances de disputar o segundo turno ou de vencer no primeiro.
Isso não quer dizer que os números das pesquisas de hoje não tenham base real. Têm, mas podem mudar no curso da campanha, à medida em que os candidatos desconhecidos vão expondo suas ideias e seduzindo ou desencantando o eleitor. O que quer o eleitor, afinal? Elis sintetiza o que identificou nas pesquisas de campo:
– A maioria ainda espera um salvador da pátria. O eleitor quer um candidato com perfil de gestor privado, com coragem e atitude, ficha limpa e proximidade com o povo e que represente a nova política.
Por “nova política” entenda-se candidato honesto, que cumpra o prometido, tenha capacidade e transparência nas ações.