A notícia de que a primeira-dama Marcela Temer entrou no laguinho do Palácio da Alvorada, "de roupa e tudo", para salvar o cachorrinho Picoly, da raça jack russell, seria apenas uma nota curiosa, não fosse por um detalhe: o afastamento da agente do Gabinete de Segurança Institucional que acompanhava a mulher do presidente na ocasião. O fato, divulgado no final de semana pela revista digital Crusoé, ocorreu há 15 dias. A agente que acompanhava Marcela perdeu o cargo porque não teve a iniciativa de entrar na água para salvar o cachorro. Em tese, colocou em risco a vida da primeira-dama.
A transferência da agente é reveladora dos critérios do governo Michel Temer para afastar assessores: ministros denunciados por corrupção seguem firmes nos cargos, apesar de o presidente ter dito, lá atrás, que quem virasse réu seria afastado. Vendo que perderia seus velhos amigos, Temer mudou de ideia e manteve os ministros e não dá sinais de que algum venha a ser afastado até o final do governo.
"A Dama do Cachorrinho" seria um bom título para o ato heroico de Marcela, que passeava pelos jardins do Alvorada com o filho Michelzinho quando o mascote avançou sobre os patos que nadavam no lago e não conseguiu retornar à margem. Como esse título já foi usado pelo russo Anton Tchecov, em um dos seus contos mais conhecidos (que nada tem a ver com o enredo de Brasília), melhor não misturar realidade com ficção.
O gesto de Marcela é um up grade na imagem de "bela, recatada e do lar", que viralizou nas redes sociais. Quem não se comove com a imagem de uma mulher capaz de entrar na água para salvar um cachorrinho? Quanto à agente de segurança, ninguém precisa se preocupar: ela não ficará desempregada. Por ser funcionária concursada, dará expediente em outra repartição.
A assessoria da primeira-dama informou que em nenhum momento Marcela pediu para a agente entrar no lago, mas pediu ajuda, apoio, chamando o bombeiro de plantão, por exemplo. Como a segurança não fez isso, ela mesmo resolveu se jogar na água.