Delator do mensalão, Roberto Jefferson foi à lona em 2005 quando a Câmara cassou seu mandato. Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a mais de 10 anos de prisão, teve a pena reduzida para sete anos e 14 dias, graças a um acordo de delação premiada. Cumpriu parte da pena na Penitenciária da Papuda e foi perdoado em 2016, pelo mesmo STF, mas nunca perdeu a pose nem a influência sobre o PTB. Passados 12 anos da cassação, Jefferson prova que, como se diz dos gatos, é um homem de sete vidas: ganhou do presidente Michel Temer o Ministério do Trabalho. Pai zeloso, indicou a filha, a deputada Cristiane Brasil, para a vaga de Ronaldo Nogueira.
Advogado acostumado a fazer teatro no Tribunal do Júri e dono de uma retórica incomparável, Jefferson comandou o espetáculo na ocupação do Ministério do Trabalho. O PTB indicou inicialmente o deputado Pedro Fernandes, um homem pouco conhecido além das fronteiras do Maranhão. Desafeto de José Sarney, foi vetado pelo ex-presidente. Estava aberta a porteira para Jefferson dar as cartas.
O poderoso chefão do PTB semeou pistas falsas. Deixou circular por Brasília a versão de que o partido indicaria o deputado Sérgio Moraes, aquele que se lixa para a opinião pública. Seria uma excelente saída para Moraes, que não pretende disputar a reeleição. O planejamento familiar dos Moraes prevê que o candidato a deputado federal será o filho Marcelo, hoje deputado estadual. Só que Sergio era um anticandidato ao ministério, por sua posição contrária à reforma da Previdência.
As fotos do início da carreira política, quando sofria de obesidade mórbida, em nada lembram o homem esbelto de agora: o líder do PTB livrou-se dos quilos a mais em 2000, com uma cirurgia bariátrica. Dez anos depois, enfrentou outra cirurgia para retirada de um tumor no pâncreas e mostrou que, na política, tem uma capacidade de regeneração semelhante à de certos répteis e anfíbios: saiu do Palácio do Jaburu como pai da nova ministra do Trabalho.
Cantor lírico nas horas vagas, fez uma performance de artista à sombra das árvores que cercam a residência oficial de Temer. Diante dos repórteres, chorou. E mostrou que está de volta à ribalta depois de cumprir os oito anos de inelegibilidade impostos na cassação e de passar uma temporada na cadeia: em outubro, será candidato a deputado federal por São Paulo.
Cristiane deverá ser uma ministra efêmera: daqui a três meses, deixará o cargo para concorrer à reeleição pelo PTB do Rio e o ministério ficará nas mãos do secretário executivo.