Desquitados desde o início do processo de impeachment de Dilma Rousseff, PT e PMDB ensaiam, há alguns meses, a retomada da parceria para 2018 em pelo menos seis Estados. A ideia ganhou força em Alagoas, reduto do senador Renan Calheiros, que deixou de lado o colega de partido e rompeu relações com o presidente Michel Temer, passando a votar contra o governo no Congresso. Interessado em sua reeleição e na reeleição de seu filho ao governo alagoano, Renan aproximou-se do discurso da esquerda no plenário e nas redes sociais. Em resposta, o presidente do PT-AL, Ricardo Barbosa, deu o sinal verde para a reconquista em nota divulgada no site da legenda:
“O PT de Alagoas resolve em sua executiva autorizar imediatamente as negociações para o retorno ao governo de Renan Filho, com altivez, dignidade e respeito que são devidos ao partido e seu legado, bem como iniciar uma ampla, democrática e responsável discussão sobre alianças visando ao pleito de 2018”.
Pressentindo a importância de uma forte aliança, o ex-presidente Lula sentenciou:
– Estou perdoando os golpistas deste país.
Petistas contrários à união com o partido de Temer lembram que há uma determinação do diretório nacional proibindo essa coligação. Ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente do PT paulista, Luiz Marinho, disse que “certamente” o partido vai “revisitar” o tema e “vai saber trabalhar a complexidade momentânea da política brasileira”.
No Rio Grande do Sul, Pepe Vargas avalia que o PT nacional não irá rever a posição tomada, mas que exceções podem ocorrer, como no Paraná, caso Roberto Requião seja o candidato ao governo daquele Estado. Requião e Kátia Abreu são vozes dissonantes no PMDB e discursam a favor de Dilma Rousseff desde o início do processo de seu afastamento.
Por enquanto, os sinais beiram o enigma, mas o resultado da troca de olhares não poderá ser considerado surpresa no ano que vem. O motivo da retomada do enlace está no tempo de TV e no dinheiro que o novo fundo eleitoral pode render. No Nordeste, o PMDB também está interessado na popularidade de Lula e na sua capacidade de mobilização.
Embora seja elencada por líderes nacionais do PT e do PMDB, a reaproximação e a aliança das duas legendas que protagonizaram o segundo impeachment da história do Brasil devem ficar restritas a eleições regionais e não serão levadas para a disputa ao Planalto. Em Brasília, o PMDB está mais próximo de partidos de centro-direita.
Aliás
No PMDB, segundo Romero Jucá, “não há nenhum tipo de proibição” para alianças regionais com qualquer partido. O presidente do Senado, Eunício Oliveira, já declarou ser eleitor de Lula e também articula aproximação com o PT no Ceará.