Nunca a expressão “subiu no telhado” foi tão adequada para definir um projeto cujas chances de aprovação diminuem a cada dia como agora, em relação à reforma da Previdência. A saída ou não do PSDB da base do governo Michel Temer não tem nada a ver com essa dificuldade: ela sempre existiu, mas aumenta à medida que se aproxima a eleição de 2018, com a maioria dos deputados e senadores precisando renovar o mandato.
O eventual desembarque do PSDB poderá ser usado como pretexto para o fracasso da reforma, mas é irrelevante.
Os tucanos são favoráveis às reformas e não deixariam de votar a proposta por saírem da base do governo. A constatação de que o governo está longe de alcançar os 308 votos necessários para aprovar uma emenda constitucional não é apenas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Aliados de fé e irmãos camaradas de Temer dizem o mesmo.
Maia disse que só vai colocar a reforma da Previdência em votação quando tiver certeza de que passa, para não correr o risco de uma derrota anunciada. Ou seja: como 2017 está terminando, não será neste ano.
Para o governo Temer, pior do que não votar a reforma neste ano é colocar em votação e perder. No discurso oficial de Maia, é possível construir a maioria nos próximos meses e votar a emenda no início de 2018. O problema é que na volta do recesso, em fevereiro, todos os líderes estarão de olho nas eleições. E o principal assunto da pauta não será a necessária reforma das aposentadorias e pensões, mas as alianças para conquistar o poder.
Individualmente, cada deputado ou senador candidato à reeleição põe na balança o que perde e o que ganha votando a favor de uma proposta impopular. Nesses casos, o instinto de sobrevivência costuma falar mais alto do que o interesse público.
Nesta quinta-feira (30), o governo sofreu mais um revés. A Justiça Federal do Distrito Federal determinou a suspensão de todas as peças de propaganda da reforma da Previdência “nas mais diversas mídias e suportes em que vêm sendo publicadas”, sob pena de multa diária de R$ 50 mil. A juíza Rosimayre Gonçalves de Carvalho atendeu a um pedido de liminar da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip) e da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco).
Aliás
A desidratação da reforma da Previdência não foi suficiente para convencer os deputados que resistem ao projeto: nem a bancada do PMDB, partido de Michel Temer, está fechada com a emenda.