Setembro chegou e com ele as últimas ondas de denúncias do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deixa o cargo no dia 17. Como um inquilino que precisa desocupar e limpar o imóvel antes de entregá-lo, Janot vai distribuindo a papelada em caixas etiquetadas: denúncias, arquivamentos, diligências que precisam continuar. Nesse trabalho, semeia o pânico entre os investigados, enquanto não mostra as cartas que ainda tem na mão e na manga.
O alvo da sexta-feira foi o Partido Progressista. Dirigentes do PP foram denunciados ao Supremo Tribunal Federal (STF) como participantes de uma organização criminosa para desviar dinheiro da Petrobras. No primeiro momento, o conteúdo da denúncia e o nome dos acusados não foram divulgados. Como há dezenas de líderes do PP sob investigação desde 2015, a tensão se espalhou por todo o país, incluindo o Rio Grande do Sul. O Ministério Público Federal devassou a vida de cinco deputados federais gaúchos (José Otávio Germano, Luis Carlos Heinze, Afonso Hamm, Renato Molling e Jerônimo Goergen) e do ex-deputado Vilson Covatti. Não se sabe o que apurou.
Leia mais:
Eles debocham do eleitor sem corar
Pressão de celebridades obriga Temer a recuar
Janot gasta suas últimas flechas em denúncia contra líderes do PMDB
Do outro lado do planeta, o presidente Michel Temer tentou passar a ideia de que estava focado na agenda internacional, mas uma nota divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência, no mesmo tom usado pelo presidente e pelos ministros Eliseu Padilha e Torquato Jardim, revelou que o clima é de preocupação. Em uma clara tentativa de se vacinar contra a segunda denúncia, que Janot deve apresentar no início da próxima semana.
A nota começa dizendo que "a suposta segunda delação do doleiro Lúcio Funaro, que estava sob sigilo na Procuradoria-Geral da República, mas tem vazado ilegalmente na imprensa nos últimos dias, apresenta inconsistências e incoerências próprias de sua trajetória de crimes". Funaro é um doleiro que prestou serviços a líderes do PMDB e fechou um acordo de delação premiada ainda não homologado pelo Supremo Tribunal Federal. O ministro Edson Fachin identificou inconsistências, devolveu o calhamaço para "ajustes" na Procuradoria-Geral da República e o documento voltou ao STF na quinta-feira.
Ainda que o conteúdo da delação de Funaro não tenha sido divulgado integralmente, sabe-se que ele implicou Temer, Eduardo Cunha, o ex-ministro Geddel Vieira Lima e vários caciques do PMDB. A nota do Planalto não só desqualifica a delação de Funaro, alegando que é um criminoso confesso, como volta a criticar o acordo feito pelo procurador-geral com Joesley Batista e seu irmão Wesley. Diz que os irmãos Batista mentiram e omitiram fatos, "sobretudo em relação às falcatruas contra o BNDES" e que, em vez de anular a delação, o MPF o perdoou.
"O doleiro, cujo testemunho serve agora para sustentar uma denúncia contra a Presidência da República, foi preso há um ano também por ameaçar de morte seus ex-parceiros comerciais", diz a nota, reforçando o tom de defesa prévia contra uma denúncia que ainda não foi formalizada.
Veja a nota completa: