A reação do presidente Michel Temer diante da posição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, favorável à saída do PSDB do governo, veio na forma de um sinal de apoio à possível candidatura do prefeito João Doria ao Planalto. Um ato prosaico de cessão de parte da área do aeroporto de Campo de Marte para o município de São Paulo escancarou a divisão no ninho tucano, que se aprofundou diante da crise ética do governo Temer.
Na semana passada, Alckmin foi cobrado pelo deputado Darcísio Perondi (PMDB) para que interferisse na bancada federal e garantisse os votos do PSDB pelo arquivamento do processo contra Temer.
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O governador disse que nada podia fazer e não moveu uma palha para salvar o mandato do presidente. Resultado: o líder orientou o voto contra Temer e a bancada rachou.
Nesta segunda-feira, na prefeitura de São Paulo, Temer mandou indiretas para o governador. Disse que "é inadmissível que brasileiros se joguem contra brasileiros", chamou Doria de "parceiro e companheiro" e endeusou o prefeito:
– Vejo que tenho parceiro aqui e um companheiro. Alguém que compreende os problemas do país. Porque a visão do João não é uma visão apenas municipalista, é uma visão nacional.
Como o PMDB não tem candidato competitivo para 2018, a aliança com o PSDB seria um caminho natural, mas até nisso os tucanos estão divididos. Há quem considere mau negócio concorrer acorrentado ao PMDB, levando em conta a baixa popularidade de Temer, a fome do partido por cargos e o fardo de ter de carregar tantos líderes encrencados na Lava-Jato. Nos bastidores, ouve-se que basta o peso morto que o senador Aécio Neves representará na próxima campanha.
Com Aécio e José Serra queimados, a escolha do candidato a presidente deverá ficar mesmo entre Alckmin e Doria. Os tucanos se dividem entre os que preferem a experiência de Alckmin, que, apesar da falta de carisma, fechará 14 anos no governo de São Paulo, e a novidade Doria, ainda não devidamente testado. Os sete primeiros meses como prefeito foram marcados por ações barulhentas de marketing, mas os companheiros temem que o balão se esvazie até outubro de 2018.