Diante da crise política, sem apoio popular e sem votos para aprovar as reformas de que o país necessita, o presidente Michel Temer une-se ao ministro Gilmar Mendes para tentar emplacar uma nova espécie de jabuticaba: o semipresidencialismo de ocasião, que, por ser uma figura anômala à tradição do país, também poderia ser chamado de semiparlamentarismo. Discutido nos encontros secretos da dupla, esse arranjo dificilmente vai encontrar eco em uma sociedade descrente da seriedade dos homens que governam o país, descontente com os legisladores e desconfiada da isenção do Judiciário.
Não que seja uma criação brasileira esse modelo híbrido em que a população elege um presidente e ele divide tarefas com o primeiro-ministro. É assim na França e em Portugal, por exemplo. Brasileira como a jabuticaba é a tentativa de implantar a mudança a toque de caixa, como se fez com o parlamentarismo em 1961 – e deu no que deu. Faltam legitimidade a Temer para propor e credibilidade ao Congresso em fim de mandato para aprovar um sistema que, para funcionar, depende de partidos sólidos e do convencimento da população de que se trata de uma blindagem contra futuras crises.
Ontem, em fóruns diferentes, Temer e Gilmar defenderam a criatura que embalam nas conversas de sábado à noite no Jaburu. Em um seminário sobre reforma política, promovido pelo jornal O Estado de S.Paulo, Gilmar sugeriu "adaptar e adotar um semipresidencialismo":
–A mim, me parece que seria um bom passo para o Brasil para nos blindar de um sistema de crises que se repetem.
Em Brasília, no almoço oferecido ao presidente do Paraguai, Horacio Cartes, Temer confirmou que esse modelo híbrido é tema frequente de suas conversas com Gilmar e que o semipresidencialismo "seria extremamente útil para o Brasil".
– Se vai dar certo ou não, não sabemos. Vamos alongar esses estudos para verificar qual é o melhor momento para sua aplicação, sua eficácia.
Traduzindo: a jabuticaba está sendo cultivada.