A semana em que o presidente Michel Temer escapou do processo no Supremo Tribunal Federal por obra e graça da Câmara dos Deputados termina com uma imagem simbólica: o retrato em alta definição do dinheiro sujo que os donos da JBS mandaram empacotar para provar que diziam a verdade na sua delação premiada. Divulgadas pela revista Época, as fotos tiradas pela Polícia Federal na "ação controlada" mostram malas e mochilas recheadas de notas de R$ 50 e R$ 100 e que somam R$ 2,4 milhões.
Uma das malas, com R$ 500 mil, foi entregue ao então deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e seria, segundo os delatores, destinada a Temer. Quando o escândalo veio à tona, a defesa de Loures devolveu o dinheiro. Preso logo depois de perder o foro privilegiado, Loures passou uma temporada entre a Papuda e a Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal. Quando se especulava que poderia fazer delação premiada, conseguiu o direito a prisão domiciliar e manteve o silêncio sobre o presente da JBS.
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O fato de Loures ter sido indicado por Temer a Joesley Batista como homem de sua confiança para tratar das demandas da empresa não foi suficiente para convencer os deputados a darem aval à investigação. Temer sustentou o discurso de que o pagamento era uma cilada do "bandido" Joesley e os aliados acreditaram – ou fingiram acreditar que a JBS entregou R$ 500 mil a um joão-ninguém e que o encontro secreto com Joesley, na noite do Jaburu, foi um episódio banal.
Outras malas com R$ 500 mil foram entregues ao emissário indicado por Aécio Neves, o primo Frederico Pacheco de Medeiros. De acordo com a investigação, Fred esteve quatro vezes na sede da JBS para receber as entregas (nos dias 5, 12 e 19 de abril e a última em 3 de maio).
Aécio defendeu-se com uma versão cor-de-rosa do pagamento: os R$ 2 milhões acertados com Joesley seriam um empréstimo de amigo para amigo para pagar advogados. Nem os companheiros tucanos acreditaram na versão, mas Frederico e Andrea Neves, irmã de Aécio, presos na Operação Patmos, conseguiram a liberdade. O senador, afastado em um primeiro momento, retornou ao mandato depois de um mês e desfila pelos corredores do Senado como se nada tivesse acontecido. Como tem foro privilegiado, não será julgado até 2018 e, com a ficha tecnicamente limpa, poderá ser candidato a deputado federal pelo PSDB de Minas Gerais.
Do dinheiro das fotos divulgadas por Época, R$ 400 mil foram para a irmã do doleiro Lúcio Funaro, que operava para políticos do PMDB e que negocia um acordo de delação premiada. O valor seria para pagar pelo silêncio de Funaro, o homem capaz de abrir os segredos que Loures se recusa a revelar.
Passados dois meses e meio da divulgação da delação dos executivos da JBS, os brasileiros viram a cor do dinheiro, têm certeza de que era sujo, mas convivem com a dúvida sobre o desfecho desse filme B, em que ninguém tem perfil de mocinho.
Aliás
Recordar é viver: em conversa com Aécio Neves, Joesley Batista pediu a ele que trabalhasse pela nomeação de Aldemir Bendine para a presidência da Vale. Ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil no governo de Dilma Rousseff, Bendine está preso em Curitiba.