Acostumado a ignorar a opinião pública em questões que tratam de ética em seu governo, o presidente Michel Temer não resistiu à pressão de celebridades, como a modelo Gisele Bündchen e recuou na trapalhada ambiental que lhe garantiria o título antecipado de vilão da Amazônia em 2017. Os ministros do Meio Ambiente, Sarney Filho, e das Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho, foram obrigados a anunciar a revogação do decreto que extinguiu uma reserva nacional na Amazônia.
Sem reconhecer que o governo cometeu uma trapalhada, os dois ministros se apresentaram para anunciar a revogação do decreto que exinguia a Reserva Nacional de Cobre e Associadas (Renca) e a edição de outro texto legal detalhando as atividades de mineração que serão permitidas na área de 46 mil quilômetros quadrados, maior do que o território da Dinamarca.
Leia mais:
Janot gasta suas últimas flechas em denúncia contra líderes do PMDB
Na feira de estatais, até Casa da Moeda vai a leilão
Semipresidencialismo de ocasião é mais uma jabuticaba brasileira
De acordo com os dois ministros, o governo não desistiu de extinguir a reserva, apenas entendeu que era preciso "clarificar pontos que estavam sendo mal interpretados".
A informação de que mineradoras canadenses foram informadas com cinco meses de antecedência sobre a extinção da reserva espalhou a desconfiança de que Temer estaria vendendo a Amazônia e abrindo a porteira para ampliação do desmatamento.
O desastre de comunicação começou a ser percebido logo depois da edição do decreto, na quarta-feira. Na quinta-feira, Gisele Bündchen escreveu em sua conta no Twitter: "VERGONHA! Estão leiloando nossa Amazônia! Não podemos destruir nossas áreas protegidas em prol de interesses privados". Foi a largada para uma série de manifestações de celebridades contra o decreto. Os protestos cresceram no fim de semana e se espalharam pelas redes sociais com usuários trocando as fotos de perfil por outra com tarja #SOSAMAZÔNIA.
A revogação do decreto e a edição de outro mais específico não garantem que os protestos vão cessar. Carente de credibilidade, com ministros que não inspiram confiança, o Planalto terá de se desdobrar para convencer a sociedade de que não colocou a floresta à venda.
Aliás
A tranquilidade do ministro Eliseu Padilha em relação à nova denúncia que o procurador-geral deve fazer contra Michel Temer é fruto da certeza de que, na Câmara, tudo pode ser barrado.