Desde a revelação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, há 45 dias, o Planalto nunca se sentiu tão confiante na superação da crise instalada em Brasília. O mais recente suspiro de alívio foi dado na sexta-feira, quando o ministro Edson Fachin mandou soltar Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o homem da mala e o aliado da mais "estrita confiança" do presidente. Rocha Loures era sondado para uma delação premiada, o que, com a soltura, já é descartado. No PSDB, a relação ficou mais próxima: o presidente da Comissão de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA), arquivou o pedido de cassação de Aécio Neves, liberado pelo ministro Marco Aurélio Mello para desempenhar seu trabalho no Congresso.
Com as vitórias, a tropa de choque de Temer concentra-se na articulação política para o arquivamento da denúncia contra o presidente. Se no auge da crise já contabilizavam apoio suficiente, agora, basta consolidá-lo.
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Levantamento realizado pelo jornal O Globo com deputados mostra que a maioria prefere não informar seu posicionamento sobre a aceitação ou não da acusação do Ministério Público Federal (MPF). Na Câmara, conforme apurou a publicação, 121 parlamentares aceitarão a denúncia, 44 não, 74 estão indecisos e 273 não responderam.
O placar não desmotiva os aliados de Temer, apesar de indicar, até agora, aparente derrota. Divulgar apoio antecipadamente ao presidente desgasta a relação entre eleitores e parlamentares e, por isso, a contagem é incerta.
Generoso com os deputados que podem salvar a sua pele, Temer decidiu suspender o aumento do Bolsa Família, programado para julho, e intensificou a distribuição de emendas e promessas de cargos. Os parlamentares veem, do outro lado da trincheira, a aproximação do período de campanha e a necessidade de agradar a seus eleitores.
No plenário do Senado, a reforma trabalhista está prestes a ser votada. Para o Executivo, é a chance de mostrar o apoio que construiu e mantém com o Legislativo, a despeito até mesmo da iminência da segunda denúncia contra Temer por obstrução à Justiça ou por organização criminosa.
Aliás
Ao contrário de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à época do impeachment de Dilma Rousseff, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vem afirmando que não pretende votar a aceitação ou não da denúncia contra Temer. Apenas, se for o caso, para desempatar.
Debate
Deputados do PP em Brasília foram chamados para discutir, na tarde da próxima quarta-feira, a denúncia do Ministério Público Federal contra o presidente Michel Temer, acusado de corrupção passiva.
Para alguns parlamentares, Temer não foi ético ao receber Joesley Batista na calada da noite no Palácio do Jaburu. Juridicamente, dizem, a denúncia é fraca. A proposição de diálogo dentro da bancada pegou de surpresa deputados gaúchos acostumados com imposições de líderes no Congresso.