Habitante de um mundo paralelo, onde avalia estar à frente de um "governo de salvação nacional", o presidente Michel Temer não se constrange em minimizar feitos impopulares e de repetir incansavelmente que a recessão acabou. Mesmo com os tímidos resultados positivos na arrecadação e com a queda da inflação, poucos brasileiros conseguem sentir no bolso o alarde digno de fantasia.
Nesta terça-feira, durante a posse de Sérgio Sá Leitão, Temer reprisou o que disse em um vídeo publicado há uma semana sobre o fim da crise.
– Depois de uma longa recessão, nós começamos a respirar uma nova economia e novos costumes no nosso país – exclamou.
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Há cinco dias, na Argentina, o presidente chegou a dizer que a população entenderia o aumento do imposto sobre os combustíveis. Se os serviços disponibilizados pelo governo estivessem à altura da carga tributária e se a escandalosa distribuição de bilhões de reais a deputados não viesse à tona, os brasileiros até poderiam compreender o canetaço.
Não foi por essa desproporcionalidade que a Justiça suspendeu a elevação do PIS/Cofins. A decisão, porém, trouxe mais um desgaste para o Planalto. O juiz Renato Borelli, da 20ª Vara Federal do Distrito Federal, apontou que não houve o cumprimento do prazo de 90 dias entre a publicação da regra e sua entrada em vigor. Além disso, cita que o aumento do imposto deveria ser feito por lei e não por decreto, como fez o presidente. A liminar estava valendo até o fechamento desta edição.
Enquanto tenta ignorar os efeitos da crise, o peemedebista, alvo de denúncia por corrupção passiva, dissemina o discurso de normalidade institucional. Já admitiu que o governo não será "arauto do catastrofismo" e que é necessário transparecer otimismo.
No dia 2 de agosto, Temer vai demonstrar que não vive sozinho no mundo paralelo. Se houver quórum, os deputados aliados do Planalto arquivarão a denúncia de Rodrigo Janot. Sem capacidade para a articulação, a oposição e parlamentares do lado de fora da bolha não conseguirão dar prosseguimento à investigação.