A frase "o maior concurso dos últimos 30 anos na área da segurança", usada pelo governo de José Ivo Sartori para anunciar a abertura de uma seleção para 6,1 mil policiais civis, militares e bombeiros já é um slogan em si. Do governador ao estagiário, todos sabem que a segurança é o calcanhar de aquiles do governo e que o clamor pelo aumento de efetivo é permanente. Tanto é assim que está no ar uma campanha publicitária tentando convencer os gaúchos de que a administração não está paralisada e que as medidas adotadas estão produzindo efeitos. Como a propaganda precisa vir acompanhada de fatos, o governo anunciou o concurso e bateu tambor.
Ninguém foi leviano de dizer que as nomeações serão imediatas, mas o efeito psicológico é esperado para os próximos meses. A ideia de que policiais civis e militares se aposentam e não há previsão de substituí-los cria na população uma sensação de desamparo e reforça nos criminosos a ideia de que sua atuação será facilitada. Nas entrelinhas do anúncio está um recado para os criminosos e para as vítimas potenciais. Ninguém disse, mas é evidente que no cálculo do governo está o projeto de reeleição de Sartori.
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O governador, que anunciou o concurso e saiu para tratar da liberação de recursos em Brasília, disse que quer deixar a seleção pronta para que seu sucessor possa nomear os profissionais de acordo com as necessidades do Estado. O secretário da Segurança, Cezar Schirmer, detalhou o processo. Disse que hoje não há dinheiro para suprir todas as vagas, mas "a crise não vai durar para sempre" e é preciso estar preparado para quando a receita voltar a crescer.
O anúncio intrigou quem acompanha o discurso catastrófico sobre as finanças. Além de estar parcelando os salários há 17 meses (de junho foram pagos R$ 2 mil até agora), o governo acena com a possibilidade de uma folha de pagamento emendar na outra a partir de setembro. O 13º salário do ano passado só terminará de ser quitado em novembro e o deste ano também será parcelado. Como, então, encaixar mais 6,1 mil servidores nos quadros do executivo? O impacto é estimado em R$ 471 milhões anuais.
O próximo governador terá de calibrar a necessidade de reposição de pessoal com a situação do caixa, que só vai melhorar se a economia voltar a crescer. A adesão do Rio Grande do Sul ao regime de recuperação fiscal, que prevê a suspensão do pagamento da dívida por três anos, é incerta. Mesmo que a União atenue as exigências previstas na lei, como a privatização ou federalização de estatais, não há certeza de aprovação da autorização pela Assembleia Legislativa.
Como o processo sucessório está deflagrado, a oposição e os aliados votarão com um olho nas necessidades do Estado e outro na tabela do quem perde e quem ganha com cada medida.