Faz mais de um ano que todas as garrafas vazias lá de casa se transformam em vasos de flores. Vou juntando e as doo para uma floricultura que dá a elas um destino mais nobre do que a reciclagem pura e simples. Com um fio de barbante, uma simples garrafa de vinho vira um delicado arranjo de astromélias, acolhe uma rosa vermelha ou ganha ares de ikebana.
Até o mês passado, eu não sabia o nome da dona da floricultura – nem ela o meu. Mas calhou de, na última entrega, encontrá-la preparando um delicado buquê de flores. Elogiei o trabalho e ouvi a história que me motiva a falar de flores neste domingo, depois de uma semana tensa, envolvida com a aridez do julgamento da chapa Dilma-Temer.
Talita, a dona da floricultura-café que leva seu nome, estava preparando um buquê de noiva. Nada de extraordinário, não fosse por um detalhe que é a própria síntese da delicadeza. Foi na loja dela que um rapaz apaixonado encomendou as primeiras flores para a moça que estava querendo conquistar. Durante dois anos, Talita acompanhou a evolução do romance, ajudando na escolha das flores que a moça recebia regularmente. No casamento, foi encarregada do buquê.
Esqueci de perguntar se alguma das minhas ex-garrafas foi usada na decoração da festa, porque isso é irrelevante. Conto esta história não apenas para dar alguma leveza ao domingo que antecede o Dia dos Namorados, nem porque uma floricultura é o único negócio que eu me animaria a gerenciar, mas porque tenho verdadeira obsessão por reciclagem. Todas as tampinhas plásticas são guardadas para doar ao Instituto do Câncer Infantil, uma iniciativa da Camila Saccomori que abraçamos com muito carinho. Acredito na Lei de Lavoisier, que aprendi há mais de quatro décadas: na natureza nada se cria, tudo se transforma.