São incrivelmente semelhantes os argumentos usados por quem é acusado em uma delação premiada de estar envolvido em esquemas de corrupção: os delatores não apresentaram provas, só estão preocupados em se safar da cadeia ou reduzir a pena, montaram armadilhas, mentem ou querem se vingar. Mais risível ainda é o papel que desempenham os militantes e aliados dos acusados: os inquéritos só são consistentes quando tratam dos crimes praticados pelos adversários. Provas são sempre frágeis quando incriminam aquele a quem defendem. Esquerda e direita tornaram-se almas gêmeas na forma como reagem às acusações de corrupção.
Para os militantes fanáticos do PT, nenhuma prova contra o ex-presidente Lula tem valor. Todas as evidências de que o sítio de Atibaia foi reformado e mobiliado para a família dele por empreiteiras interessadas em negócios da China com o Estado brasileiro não bastam. Depoimentos de quem pagou as contas são tratados como desimportantes, mesmo quando dados por delatores que não terão os benefícios do acordo se ficar comprovado que mentiram. Os petistas querem a escritura do sítio em nome de Lula. Se não tem, a propriedade é de Fernando Bittar e não se discute por que a OAS e a Odebrecht fizeram benfeitorias sob medida para atender à família de Lula. Em relação ao triplex do Guarujá, vale a mesma lógica.
Leia mais:
A "estrita confiança" de Michel Temer
Indicado do PTB está a um passo de ocupar diretoria do Badesul
José Dirceu pode voltar para a cadeia
Do outro lado, não é diferente. Os batedores de panelas acham que graves eram as pedaladas fiscais, os discursos desconexos de Dilma Rousseff, a gravação sobre o documento de posse de Lula na Casa Civil, que estava com o "Bessias". Para que vestir verde e amarelo e protestar contra o governo, se o objetivo de tirar o PT já foi alcançado?
E daí que Temer foi denunciado por corrupção passiva? O MBL e seus garotos amestrados sumiram das ruas e das redes com suas pregações contra a corrupção.
Apesar da mala com R$ 500 mil e das delações comprometedoras, aliados do presidente sustentam que é tudo perseguição do procurador Rodrigo Janot, o ficcionista, da mesma forma que os petistas atribuem as denúncias contra Lula "aos meninos de Curitiba" e tratam o juiz Sergio Moro como uma versão paranaense do capeta.
Os textos do deputado Darcísio Perondi em defesa de Temer em nada ficam devendo aos blogueiros petistas que se revezam na louvação a Lula. Os aplausos do PMDB e o "Bravo! Bravo!" de Perondi ao final da manifestação de Temer na terça-feira se equivalem ao "Lula, guerreiro do povo brasileiro" que os petistas entoam sob aplausos quando o ex-presidente diz qualquer coisa, especialmente quando ataca a mídia.
Os líderes tucanos aplaudiram Aécio Neves na reunião em que decidiram manter o apoio a Temer, uma das formas de proteger o senador acusado de receber dinheiro da JBS e de cobrar propina de empreiteiras na obra da Cidade Administrativa. Nos discursos, agem como se a corrupção fosse um problema exclusivo do quintal petista.