Talvez por excesso de trabalho, talvez porque esteja lidando com material inflamável, o departamento encarregado das explicações no Palácio do Planalto deu mais uma resposta estapafúrdia a questionamento do repórter Fábio Schaffner, de ZH, sobre mais uma viagem do presidente Michel Temer em helicóptero privado. Com toda a frota de jatinhos e helicópteros da Força Aérea Brasileira (FAB) à sua disposição, sem contar os carros que servem à Vice-Presidência, em março de 2016 Temer foi a Tietê (SP), sua terra natal. na aeronave de um empresário, o amigo Antônio João Abdalla Filho, o Toninho.
Este é o terceiro caso revelado de viagem de Temer em avião ou helicóptero de empresário ao tempo em que era vice-presidente.
Tão curiosa quanto a predileção por viagens em aeronaves privadas é a versão oficial para cada voo. No caso da ida da família Temer a Comandatuba, na Bahia, em 2011, o Planalto primeiro negou que ele tenha viajado no avião da JBS. No dia seguinte, confirmou, mas disse que o presidente não sabia quem era o dono do jatinho, no que foi desmentido por Joesley Batista e pelo comandante da aeronave.
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No segundo episódio, uma viagem para Tietê no helicóptero do empresário Vanderlei de Natale, em 2014, revelada por ZH, a primeira reação do Planalto foi negar. Como Schaffner tinha as fotos, a assessoria de Temer voltou atrás, reconheceu a viagem e explicou que o proprietário era amigo do presidente.
Desta vez, o Planalto demorou mais de 24 horas para responder ao pedido de informações sobre a viagem feita em 6 de março do ano passado, no helicóptero de Adballa, sócio da Citrosuco, maior processadora de suco de laranja do mundo.
O e-mail confirma que o então vice-presidente usou o helicóptero de um "conhecido" e que "pagou pelo serviço, conforme nota fiscal em anexo". A nota fiscal encaminhada não é de aluguel, mas de uma compra de querosene de aviação, no valor de R$ 1.031,77, emitida pela Air BP Brasil Ltda à Paulicopter, empresa de Toninho Abdalla.
Por considerar que sua pergunta não fora respondida, Schaffner insistiu com o Planalto. A assessoria de Temer encaminhou então um recibo em papel timbrado da Paulicopter, dizendo que a empresa recebeu do "Sr. Michel Miguel Elias Temer Lulia" a quantia de R$ 1.107,45, paga com um cheque da conta pessoal dele no Banco Santander.
Do episódio fica a pergunta: por que o vice-presidente preferia viajar em aeronaves de empresários, burlando inclusive as regras de segurança, em vez de requisitar um helicóptero da FAB? Isso o departamento de explicações ainda não conseguiu esclarecer.
Se os assessores do presidente se enrolam para explicar eventos banais, entende-se por que Temer entregou em branco o questionário encaminhado pela Polícia Federal sobre suas relações com a JBS e com Rodrigo Rocha Loures. A falta de respostas levou a PF a concluir que há indícios vigorosos de prática de corrupção passiva.