Pergunte-se a qualquer brasileiro se aceita abrir mão de um direito qualquer e a resposta da maioria será que não. Com a reforma da Previdência, que mexe com a vida de trabalhadores do setor privado e com servidores públicos, a resistência foi traduzida em números pelo Instituto Datafolha: 71% são contra. Entre os funcionários públicos, o índice de rejeição sobe para 83%.
Foi para tentar driblar esses números que o presidente Michel Temer encerrou o feriado do Dia do Trabalho reunindo ministros e líderes da base aliada no Congresso. Derrotado na batalha da comunicação, já que não conseguiu convencer a população da necessidade de reformar a Previdência, Temer cedeu, abrandou a proposta, mas nem assim conseguiu os 308 votos necessários à aprovação de uma emenda constitucional.
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A estratégia de intimidação, com a ameaça do Planalto de retirar cargos dos deputados infiéis que votaram contra a reforma trabalhista, pode produzir efeito contrário.
– Acho ridícula essa chantagem. Tenho dois cargos no governo. Se ele quiser, que tire. Ameaça para cima de mim não funciona – diz o deputado Jerônimo Goergen (PP), que votou a favor da reforma trabalhista, mas não concorda com o projeto da Previdência.
– Sou contra porque este projeto não reforma a Previdência. Ele tem caráter arrecadatório e trata muitas categorias de maneira diferente – justifica Goergen, que abriu mão do plano especial dos congressistas e contribui exclusivamente para o INSS.
Mesmo entre os aliados que defendem o projeto, a preocupação é votar a favor de uma proposta que pode acabar sendo rejeitada e pagar o preço na eleição de 2018. A constatação de que as reformas de Temer podem salvar o mandato de deputados e senadores da oposição que estavam desgastados pelas denúncias de corrupção vem alarmando os aliados em suas incursões pelas bases eleitorais.
No Rio Grande do Sul, um exemplo é o do senador Paulo Paim (PT), que os adversários consideravam fora do jogo em 2018. Ao propor uma CPI para investigar a Previdência, avalizada por aliados de Temer, Paim ganhou discurso e voltou a ser considerado um concorrente de peso, que tanto poderá disputar a reeleição como concorrer ao Piratini.