Bastou a decisão da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal que concedeu habeas corpus a José Dirceu para o PT colocar na rua o seu mais novo factoide: a proposta de antecipação da eleição presidencial para este ano. A ideia tem viabilidade próxima de zero, mas serve à estratégia do PT de animar seus militantes e inflar a possível candidatura do ex-presidente Lula antes que venha a ser condenado na Lava-Jato ou que apareça um adversário competitivo.
A cúpula do PT divulgou uma "resolução política" em que comemora o habeas corpus concedido a Dirceu, chamado internamente de "guerreiro do povo brasileiro", e o crescimento de Lula nas pesquisas. A resolução diz que "o PT saúda a decisão que liberou o companheiro José Dirceu, preso injustamente, e espera que a mesma se estenda ao companheiro João Vaccari".
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O documento trata as confissões dos executivos e ex-executivos da Odebrecht e da OAS como "delações fabricadas". Faz de conta que os marqueteiros João Santana e Mônica Moura não entregaram os depósitos milionários recebidos no Exterior, a título de pagamento pelas campanhas petistas. Ou ignora, porque candidatos de outros partidos também se lambuzaram com o dinheiro de caixa 2 ou de propina.
A resolução sugere que os dirigentes petistas vivem em um mundo paralelo ou debocham escancaradamente dos brasileiros ao insinuar que a corrupção na Petrobras é uma criação da força-tarefa da Lava-Jato.
Os acordos de leniência e os milhões de reais já devolvidos pelos delatores são a prova de que a corrupção tomou proporções amazônicas nos últimos anos. Precipitar a eleição sem saber se os possíveis candidatos (Lula, Aécio Neves e Geraldo Alckmin entre eles) são culpados ou inocentes seria jogar combustível na crise.
Os petistas, que costumam criticar as pesquisas quando não favorecem seus candidatos, agarram-se a elas como tábua de salvação porque mostram Lula em primeiro lugar nas intenções de voto.
A sugestão da direção petista é de que os parlamentares apresentem uma emenda constitucional convocando eleições diretas ainda neste ano. Para ser aprovada, uma emenda precisa dos votos de três quintos dos parlamentares em duas votações na Câmara e outras duas no Senado. É evidente que a oposição não tem 308 votos na Câmara. Mesmo que tivesse, não haveria tempo hábil para aprovar a lei, definir as regras para as candidaturas e as campanhas, preparar uma eleição de tamanha complexidade e realizá-la em pouco mais de seis meses.
A ideia da direção petista lembra a manobra do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de retomar o controle do país com a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. A comparação com Maduro não é gratuita. Boa parte dos petistas simpatiza com o regime venezuelano e flerta com a ideia de "controle da mídia". Da cadeia, Dirceu escreveu uma carta de 14 páginas em que defende uma guinada do PT à esquerda.