Anoitecia quando o governo de Michel Temer acabou de fato, cinco dias depois de completar um ano. De direito, acabará com a renúncia ou com o impeachment – o primeiro pedido de afastamento foi protocolado na Câmara pelo deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), logo depois da explosão da bomba detonada pelo colunista Lauro Jardim, de O Globo, com a notícia de que Temer deu o aval para a compra do silêncio de Eduardo Cunha. Se resta ao presidente alguma dignidade, a renúncia é um imperativo.
A crise invadiu todos os andares do Palácio do Planalto e se estendeu pelo Congresso, que já vinha fragilizado por outras delações. Com as revelações do dono do Grupo JBS, Joesley Batista, Temer perde todas as condições para comandar as reformas em andamento no Congresso. Com o naufrágio das propostas, a economia, que vinha dando sinais de recuperação, será fatalmente atingida. O impacto será sentido já no início desta quinta-feira, com a abertura do mercado financeiro, sempre sensível aos redemoinhos da política.
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A derrocada de Temer e o envolvimento comprovado de Aécio Neves no esquema de achaque à JBS foram comemorados pelos líderes do PT no tom de quem experimenta o doce sabor da vingança. Mas o PT não tem o que comemorar. Na delação do dono do JBS (Friboi), sobra para Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma. Joesley Batista disse que era ele quem cuidava da propina para o PT. Mais: Temer só está no poder porque o PT deu-lhe, por duas vezes, a vaga de vice-presidente.
A diferença dessa delação, para as de outros personagens, é que a Polícia Federal conseguiu produzir provas, jogando iscas para os enrolados morderem o anzol. Tudo gravado ou filmado, com rastreamento do dinheiro entregue.
O que será o amanhã? É cedo para ter certeza. Não se sabe qual é a extensão da delação dos irmãos Batista, mas diante da provável cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral e da possibilidade de renúncia de Temer, o caminho natural é a realização de uma eleição indireta para a escolha de um presidente-tampão. Não se pode descartar, no entanto, uma mudança radical nas regras do jogo.