Se há uma delação ainda não firmada capaz de tirar o sono dos principais líderes do PT é a do ex-ministro Antônio Palocci, o Italiano das planilhas da Odebrecht. Preso em Curitiba, Palocci não tem o perfil de José Dirceu, um ex-guerrilheiro capaz de morrer na cadeia sem entregar os companheiros. No mensalão, Dirceu, que também está preso em Curitiba, pagou o pato pelo modelo de compra de apoio político denunciado por Roberto Jefferson (PTB) no primeiro governo Lula.
Ex-prefeito de Ribeirão Preto, Palocci tornou-se o queridinho dos empresários quando foi ministro da Fazenda no primeiro governo de Lula. Era ele quem ajudava a quebrar o gelo com os barões temerosos das atitudes de um governo eleito com um programa de esquerda, ainda que atenuado na Carta aos Brasileiros e suavizado com a escolha de Henrique Meirelles para o Banco Central. Dirceu na Casa Civil e Palocci na Fazenda davam o norte nos primórdios do governo Lula.
Dirceu caiu em junho de 2005. O ministro da Fazenda resistiu até 27 de março de 2006, abatido pela revelação de que a Caixa Econômica Federal quebrara ilegalmente o sigilo do caseiro Francenildo Costa. Relembrando, o caseiro contrariou depoimento de Palocci à CPI dos Bingos e afirmou que ele frequentava uma mansão alugada para encontro com lobistas em Brasília.
Palocci passou os quatro anos do segundo governo Lula nas sombras, mas reapareceu na coordenação da campanha de Dilma Rousseff, em 2010, formando um trio com José Eduardo Cardozo e José Eduardo Dutra. De novo, era o elo com o empresariado.
O segundo período de glória do médico de Ribeirão não durou seis meses. Em maio de 2011, a Folha de S.Paulo publicou reportagem mostrando que seu patrimônio crescera 20 vezes entre 2006 e 2010. Palocci não conseguiu explicar o enriquecimento. Atribuiu a dinheirama a serviços de consultoria para clientes cujo nome recusou-se a informar, alegando cláusula de confidencialidade.
Agora, Marcelo Odebrecht diz que era Palocci quem lhe pedia dinheiro em nome de Lula e movimentava uma conta milionária de recursos destinados ao PT. Com esse perfil, uma eventual delação seria uma bomba de efeito devastador.