Não há motivo para surpresa com as palavras do presidente Michel Temer na homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Um presidente que montou um ministério sem nenhuma figura feminina não está cometendo gafe quando faz um discurso para, supostamente homenagear as mulheres, e acaba por reforçar os estereótipos. O que Temer diz é compatível com o que faz. Logo, coerente com o que, aos 76 anos, deve pensar sobre o papel da mulher.
Ao lado da mulher, Marcela, de 33 anos, Temer usou frases que reforçam a ideia de que nosso melhor papel na sociedade é o de dona de casa. Em vez de falar das empresárias que contribuem para a economia do país, ou das economistas que estudam e ensinam esses fenômenos, o presidente preferiu ressaltar a importância do nosso papel como fiscais de supermercado:
– Na economia, também a mulher tem grande participação. Ninguém é mais capaz de indicar os desajustes de preço no supermercado do que a mulher. Ninguém é capaz de melhor detectar as flutuações econômicas do que a mulher, pelo orçamento doméstico.
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Em vez de falar das conquistas das mulheres que hoje se destacam em todas áreas antes restritas aos homens, Temer retrocedeu ao tempo da revolução industrial:
– Com a recessão indo embora, volta o crescimento, volta o emprego. Hoje, graças a Deus, as mulheres têm possibilidade de empregabilidade que não tinham no ano passado. Com a queda da inflação, dos juros, significa que também, além de cuidar dos afazeres domésticos, terá um caminho cada vez mais longo para o emprego.
Em outra passagem, talvez inspirada na composição de seu governo, Temer disse que a mulher ainda é tratada como se fosse uma "figura de segundo grau". E emendou:
– Tenho convicção do quanto a mulher, pela minha criação, pela Marcela, faz pela casa, pelo lar, pelos filhos. Se a sociedade vai bem, se os filhos crescem, é porque tiveram adequada formação em suas casas e, seguramente, quem faz isso não é o homem, é a mulher.
A propósito, hoje o ministério de Temer tem duas ministras – a advogada-geral da União, Grace Mendonça, ascendeu ao posto com a queda de Fábio Medina Osório, logo no início do governo, e Luislinda Valois ganhou o cargo quando a Secretaria de Direitos Humanos recebeu status de ministério para diluir o impacto da recriação de uma pasta para garantir a Moreira Franco o foro privilegiado.
Estrela do ato, a primeira-dama, Marcela Temer, fez um discurso um pouco mais consistente do que o marido, lembrando que muitas lutas a serem vencidas pelas mulheres, como a a rotina de violência sexual e física a que são submetidas:
– Nesse dia em que paramos para refletir nossas lutas e conquistas, é importante que a sociedade reconheça os vários papéis que nós exercemos e que nossas escolhas sejam respeitadas por todos, desde profissão ao nosso modo de vida.