O gigante que despertou em 2013 e rugiu em 2015 e 2016 até conseguir o impeachment da presidente Dilma Rousseff voltou a adormecer. De volta aos armários, as panelas silenciaram. Nem os movimentos escancarados para estancar a sangria da Lava-Jato, como queria o senador Romero Jucá (PMDB-RR) na antológica gravação de Sérgio Machado, foram capazes de reacender a indignação nos brasileiros revoltados com a corrupção. Eis aí um fenômeno que talvez nem Freud conseguiria explicar.
Em outros tempos, a mais recente tentativa de Jucá de jogar areia na Lava-Jato teria provocado um panelaço, ou no mínimo, manifestações indignadas dos líderes de movimentos contra a corrupção. Jucá recuou, mas não foi por pressão das ruas. Foi porque a oposição fez barulho e a mídia reverberou. A emenda que o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chamou de PEC da Indecência, porque tentava proteger da Lava-Jato os presidentes da Câmara e do Senado, foi para o freezer, mas nada impede que seja descongelada ali adiante.
Leia mais:
Temer vê com "tranquilidade" decisão de manter Moreira Franco como ministro
Saiba o que é uma denúncia e como a decisão de Temer pode proteger os ministros na Lava-Jato
Nomeação de Moreira Franco como ministro de Temer será questionada na Justiça
Os indignados com a tentativa escancarada de Dilma Rousseff de dar foro privilegiado ao ex-presidente Lula engoliram sem se engasgar a explicação de que o caso de Moreira Franco era diferente. Acreditaram na versão oficial (referendada pelo ministro Celso de Mello), de que sua passagem de secretário para ministro tem como único objetivo a maior eficiência do governo. Detalhe: Moreira sequer foi para um ministério existente. Mesmo tendo uma uma Secretaria de Governo, o presidente Michel Temer criou a Secretaria-Geral da Presidência, com status de ministério, para abrigar o amigo, o "Angorá" das delações dos executivos da Odebrecht.
Em outro episódio que poderia despertar as panelas adormecidas, a oposição conseguiu abortar a aprovação de uma proposta que permitiria aos parentes de políticos investigados repatriar dinheiro guardado no Exterior, mesmo com todos os indícios de que abrir contas em nome de pessoas da família era uma das formas de ocultar recursos obtidos em esquemas de corrupção.
Depois de seus ministros garantirem que Temer faria uma escolha técnica para a vaga do ministro Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal, eis que o presidente tirou da cartola o nome de seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Jucá, agora líder do governo, tentou antecipar a sabatina, mas a oposição, com apoio de uns poucos aliados, barrou a manobra.
Talvez arrependido por ter expurgado de seu governo dois amigos diletos (Jucá e Geddel Vieira Lima), talvez por medo da solidão do Planalto, Temer definiu um padrão para as próximas degolas: só sai (temporariamente), o ministro que for denunciado pelo Ministério Público, não importando quantas vezes e em que circunstâncias tenha sido citado por delatores na Lava-Jato. Em caráter definitivo, só sai ministro que virar réu. Pode-se questionar o critério, mas como as panelas estão em silêncio, a bolsa sobe e o dólar cai, Temer não tem motivo para perder o sono.