A barbárie no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), que terminou com a morte de 56 presos, sepulta uma das ilusões cultivadas pelos defensores de soluções milagrosas para a crise do sistema prisional, a de que a privatização tudo resolve. Nos últimos anos, o governo do Amazonas despejou dinheiro no consórcio que administra os presídios e é responsável pela segurança interna.
O massacre expôs o fracasso do modelo adotado pelo governo amazonense e colocou em dúvida a lisura do processo. O consórcio responsável pela gestão dos presídios recebeu cerca de R$ 1 bilhão nos últimos quatro anos. Em 2014, a Auxílio, empresa do Ceará que compartilha a administração penitenciária no Amazonas com a Umanizzare, doou R$ 300 mil para a campanha do governador José Melo (Pros). Acionistas da Umanizzare fizeram doações para um ex-deputado federal que é réu em ação por tráfico de drogas.
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No Compaj, foram registrados os mesmos problemas de presídios gerenciados pelo poder público no Brasil: superlotação, domínio de facções criminosas rivais, entrada de armas, drogas e celulares. Com alguns agravantes: a perda total do controle pelos gestores, que resultou na rebelião do primeiro dia do ano, com assassinatos em massa, usando métodos dos terroristas do Estado Islâmico: decapitações filmadas para impor medo aos inimigos.
Em todo o país, a pergunta mais repetida nas últimas horas é se existe o risco de a chacina de Manaus se repetir em outras cidades. O juiz Sidnei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, disse no Gaúcha Atualidade que não. Por um motivo que de nobre não tem nada:
– No cenário atual, dificilmente aconteceria isso, porque o crime, aqui dentro das prisões, me parece ser mais organizado. As nossas facções aprenderam a lidar com o sistema. Quanto pior o presídio, melhor para o crime. As pessoas que controlam as galerias acabam tendo uma lucratividade muito grande. São locais de recrutamento de mão de obra para o crime, e não vão colocar em risco esses espaços, que são valiosos, que geram muito dinheiro para o próprio crime.
Aliás
Além da superlotação e da circulação de drogas e telefones, um dos problemas do sistema prisional no Rio Grande do Sul é a falta de oportunidades para os presos estudarem e trabalharem.