No supermercado, encontro uma ex-colega de trabalho a quem não via há uns bons 30 anos. Simpática, ela quer saber como estou, se tenho filhos, se já tenho netos, se estou casada, se consegui ser o que queria ser quando tinha 22 anos. E arremata com uma afirmação e uma pergunta:
– Mas tu já tens tempo para se aposentar. Por que continua trabalhando?
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Respondo que, sim, na fórmula 85/95 tenho tempo de homem, porque comecei a trabalhar aos 16 anos e nunca deixei de contribuir para a Previdência. Mas tenho boa saúde, uma imensa capacidade de trabalho, energia para dar e vender e acho 55 anos (isso foi em 2015) muito cedo para parar.
– Mas por que tu não te aposentas e vai descansar?
Explico que não estou cansada, adoro meu trabalho e que, quando não servir mais para o jornalismo, vou cultivar orquídeas, fazer trabalho voluntário, ler para crianças ou para cegos. Mas acho que ainda não chegou a hora. Além disso, explico meio sem jeito, eu não conseguiria viver só com o benefício do INSS, mesmo contribuindo pelo teto há três décadas.
Minha ex-colega me conta que fez concurso tarde, dá aula numa escola pública e não vê a hora de se aposentar. Despedimo-nos alegres pelo reencontro e eu saio com a certeza de que a insistência dela é carinhosa. Minha ex-colega verdadeiramente não acredita que eu possa ter prazer em um trabalho que, para ela, é como carregar água em um cesto de vime, ladeira acima, repetindo o mito de Sísifo. Eu a compreendo e agradeço por essa preocupação.