Na eleição que varreu o PT do comando das principais cidades brasileiras, o PSDB fincou sua bandeira em territórios emblemáticos no Rio Grande do Sul. Pela primeira vez, vai administrar três das cinco maiores cidades gaúchas: a Capital, Pelotas e Santa Maria. Dos cinco colégios eleitorais com possibilidade de segundo turno, o PT só disputou em Santa Maria, onde o deputado Valdeci Oliveira perdeu para o colega Jorge Pozzobom por apenas 226 votos.
Em Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB) foi eleita no primeiro turno, com quase 60% dos votos, e a candidata do PT, Miriam Marroni, chegou em quarto lugar, com apenas 6,42%. Em Caxias do Sul, o deputado Pepe Vargas também ficou fora do segundo turno. Em Canoas, o PT sequer lançou candidato. Apoiou Beth Colombo (PRB), derrotada por Luiz Carlos Busato (PTB). Nos 10 maiores municípios do Rio Grande do Sul, o PSDB conquistou ainda Novo Hamburgo. O PT elegeu dois – o de Rio Grande e o de São Leopoldo.
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Embora sem nenhum prefeito entre os 10 maiores municípios, o PP está em festa: emplacou o vice-prefeito em Porto Alegre e Santa Maria e ainda lavou a alma com a derrota de Beth Colombo em Canoas. O presidente estadual do partido, Celso Bernardi, fracassou na tentativa de demover Beth da ideia de trocar o PP pelo PRB. A direção estadual interveio no município, mas acabou derrotada na Justiça, e o diretório local se manteve ao lado de Beth.
Nas capitais brasileiras, o PSDB conquistou a mais importante, a de São Paulo, e ainda elegeu os prefeitos de Manaus, Maceió, Belém, Teresina e Porto Velho. Sete em 26 é um número extraordinário, principalmente quando se leva em conta que o PT só terá a prefeitura de Rio Branco.
A eleição de Marchezan é uma aposta do eleitor porto-alegrense na novidade.
– Não esperem de mim mais do mesmo – disse na primeira entrevista depois de eleito.
Marchezan vai precisar montar um secretariado com capacidade de gestão. Sua única experiência administrativa é uma diretoria de Desenvolvimento do Banrisul, cargo para o qual foi nomeado no governo de Germano Rigotto. Como a gestão do banco é colegiada, diretor tem uma espécie de rede de proteção: suas decisões nunca são solitárias.
Autodefinido como uma pessoa de pavio curto, no comando da prefeitura Marchezan terá de domar seu temperamento explosivo para evitar crises com os subordinados e com a base aliada na Câmara. O prefeito eleito avisa que será intolerante com a corrupção e com a ineficiência – o que é um bom sinal. Os secretários trabalharão com metas que serão avaliadas a cada trimestre. Se não atingirem, serão estimulados a pedir demissão, para que o prefeito não precise dispensá-los:
– Quem não cumprir as metas deve ter a grandeza de pedir para sair.
Por mais que Marchezan queira montar uma equipe de luxo, não será fácil atrair talentos de fora da política. O salário de R$ 12 mil de um secretário pode parecer muito para a maioria dos brasileiros, mas não é atraente para executivos que trabalham na iniciativa privada.
O prefeito ganha R$ 18.991, pouco mais da metade de um deputado federal. Marchezan vai perder dinheiro. Além de perder o salário melhor, não terá os penduricalhos que a Câmara oferece a título de verbas de gabinete.