A conclusão da Polícia Federal em relação ao que o candidato Nelson Marchezan imaginava ser um atentado a seu comitê na Avenida Ipiranga é tranquilizadora para quem defende a paz nas campanhas eleitorais: não foi tiro que quebrou as vidraças. Marchezan chegou a denunciar o suposto atentado em entrevistas e em seu programa de rádio e TV, mas a investigação chegou à conclusão de que os vidros foram quebrados pelo vento.
"Dadas as condições climáticas extremamente desfavoráveis no momento da ocorrência dos danos, em uma madrugada em que Porto Alegre registrou intensa e incomum atividade elétrica nos céus, grande volume de chuva concentrada, fortes rajadas de ventos, trovoadas e relâmpagos intermitentes, a perícia considera factível a hipótese de quebra dos vidros por pressão do vento", diz o relatório da Polícia Federal.
Leia mais:
Polícia Federal conclui que não houve ataque a tiros ao comitê de Marchezan
Tiros contra o comitê de Marchezan foram motivados por rixa entre policial e criminosos, diz Fortunati
"Me atirei no chão, porque é tudo vidro", conta vigia do comitê de Marchezan
Apesar de as testemunhas terem declarado que ouviram barulho de tiros, nenhum projetil, fragmento ou cápsula foi encontrado no interior do prédio. Também não há marcas de disparo de arma de fogo nas paredes, no piso ou no teto do comitê. As imagens das câmaras de segurança mostram que os carros que passam na frente do comitê estão com os vidros fechados e não há clarões partindo do interior desses veículos em relação ao prédio.
A denúncia de que o comitê de Marchezan fora alvo de um atentado levou à conclusão precipitada de que a campanha eleitoral tinha se transformado na mais violenta da história de Porto Alegre. A tese ganhou força pelo fato de os vidros terem sido danificados de madrugada, no mesmo fim de semana em que o coordenador do plano de governo de Sebastião Melo, Plínio Zalewski foi encontrado morto na sede do PMDB (a conclusão preliminar da perícia é de que se suicidou) e que a sede do DEP foi alvo de um incêndio criminoso. Naqueles dias, teorias conspiratórias ganharam corpo nos comitês dos dois candidatos, com acusações e insinuações de práticas criminosas.
Ainda falta uma conclusão definitiva sobre a morte de Plínio Zalewski. Se foi de fato suicídio, a motivação ainda não está devidamente esclarecida, embora tenha sido encontrado junto ao corpo um bilhete em tom de despedida, reclamando de “estado policial” e de perseguição à família.
A precipitação não foi apenas de Marchezan: na ânsia de descaracterizar o episódio como atentado, o prefeito José Fortunati divulgou um enredo mirabolante, segundo o qual os tiros haviam sido disparados por traficantes, que tinham como alvo um policial civil que estaria no comitê. A versão teria partido de uma servidora pública, que pediu licença-prêmio para acompanhar o irmão, o tal policial ameaçado por traficantes.