Rosane de Oliveira
Se a Justiça não tivesse proibido em nome da legalidade, junto com a eleição deste domingo estaria sendo realizado um plebiscito informal para o eleitor dizer se concorda ou não com a separação de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná para a criação de um país que provisoriamente é chamado de Sul. A ideia de um certo grupo denominado O Sul é meu país, de realizar uma consulta popular no dia da eleição municipal, é dessas bobagens que não mereceriam mais do que um comentário de 140 caracteres. Mas, como o assunto ganhou pernas nas redes sociais, e a consulta (frustrada) foi antecipada para a véspera da eleição, é preciso jogar alguma luz sobre o tema, para que pessoas de boa-fé não sejam enganadas pelo discurso fácil dos vendedores de ilusões.
Não é de hoje que saudosistas do tempo em que o Rio Grande do Sul se imaginava acima do bem e do mal flertam com a ideia do separatismo, torcendo dados para passar a ideia de que, independentes, seríamos ricos como a Suíça ou teríamos, no mínimo, estradas boas como as do Uruguai, menos violência e melhor qualidade de vida. Na hora de contabilizar o que sai do Estado, em impostos, e o que retorna em serviço, são feitas contas em papel de pão, para concluir que, sem o Brasil, seríamos Primeiro Mundo.
Como perceberam que, sozinho, o Rio Grande do Sul não seria viável, os neosseparatistas agora querem incluir o Paraná e Santa Catarina na sua aventura, sem se importar com o fato de que a maioria dos nossos vizinhos ri desses delírios. Com Santa Catarina no pacote, o país imaginário teria praias de água azul, fábrica da BMW, polo cerâmico e tudo o que nos causa inveja acima do Mampituba. O Paraná garantiria, entre outras vantagens, a usina de Itaipu e obrigaria o Brasil a importar nossa energia – e a fazer imigração para comprar bugigangas no Paraguai.
Como Paraná e Santa Catarina não demonstram interesse em embarcar nessa aventura, os defensores do separatismo precisam pensar seu país inventado considerando apenas o território, as riquezas e as misérias do RS.
Esse país fictício, que hoje não arrecada o suficiente para bancar as despesas, teria de pagar todas as dívidas e assumir a responsabilidade por estruturas colossais como as universidades federais, o Hospital de Clínicas e o Grupo Hospitalar Conceição. Seríamos obrigados a importar 100% do petróleo. Livres da Lei Kandir, que impõe a isenção de ICMS nas exportações de grãos, por exemplo, poderíamos, enfim, cobrar o imposto de que tanto reclamam os servidores públicos – desde que os importadores da soja gaúcha aceitassem pagar mais do que pagam pelo que compram de Mato Grosso ou de outros Estados brasileiros produtores.