Depois de quase três meses de reclamações dos porto-alegrenses contra mau cheiro da água, a Fepam tomou a providência que desde o início de julho parecia a mais óbvia: suspendeu as atividades da Cettraliq, que trata efluentes industriais de 220 empresas. E por que parecia óbvia? Porque o cheiro de podre que emana da Cettraliq e empesta uma extensa área próxima à ponte do Guaíba é o mesmo que sai das torneiras que recebem a água do Dmae captada no Guaíba próximo à Casa de Bombas da Trensurb, onde a empresa despeja seus efluentes.
Moradores das proximidades cansaram de reclamar do cheiro de mofo que se estende por uma extensa área do bairro Navegantes e chega até a Arena do Grêmio.
O curioso nessa história repleta de mistérios é que sucessivos exames de laboratório não detectaram elementos que expliquem o odor e o gosto ruim da água. A Cettraliq foi interditada por “emissão continuada de odores provenientes de suas atividades, em quantidades perceptíveis fora do limite de sua propriedade, contrariando determinação da licença ambiental concedida pela Fepam.
A secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e presidente da Fepam, Ana Pellini, justificou a suspensão das atividades com o argumento de que a Cettraliq teve prazo para apresentar plano de correção dos problemas e nada fez.
A promotora Ana Marchezan disse que a empresa tem um histórico de problemas:
– Tudo indica que seja a principal responsável pelos problemas da água.
Com a Cettraliq proibida de operar por tempo indeterminado, o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) vai fazer a limpeza da rede e da Casa de Bombas.
Além do desconforto para os moradores da região e das reclamações dos consumidores abastecidos pelas hidráulicas São João e Moinhos de Vento, o problema tem custo alto para o Dmae, que precisa aumentar a quantidade de produtos para tornar a água potável, especialmente carvão ativado e dióxido de cloro. Em junho e julho, o Dmae gastou cercade R$ 3 milhões a mais com produtos químicos usados no tratamento da água.
Os exames diários feitos pelo Dmae e os encomendados a laboratórios de fora do Estado garantem que a água é adequada para o consumo, mas o cheiro e o gosto deixam o consumidor inseguro.