Na gangorra da investigação dos escândalos de corrupção, PT e PMDB vinham se alternando no topo. Por vários dias, o PMDB sangrou em praça pública com a delação de Sérgio Machado, que derrubou três ministros do governo interino de Michel Temer (Romero Jucá, Fabiano Silveira e Henrique Eduardo Alves). Ninguém foi detido, apesar de o procurador Rodrigo Janot ter pedido a prisão de Jucá, Renan Calheiros e José Sarney. Com a Operação Custo Brasil, nesta quinta-feira a gangorra mudou de posição. Outra vez é o PT que está está no foco, com a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo e de outros acusados de envolvimento em um esquema que teria movimentado R$ 100 milhões.
Desta vez, os lesados não são os impessoais "cofres públicos", mas servidores públicos que tomaram empréstimos consignados e pagavam, compulsoriamente, uma taxa a título de custo da operação. De acordo com a investigação, 70% dessa taxa ia para os cofres do PT e de seus candidatos e 30% ficava com a Consist, a empresa encarregada do sistema de operação.
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Era um valor pequeno cobrado mensalmente de cada tomador de empréstimos, mas, no oceano de servidores e pensionistas endividados, resultou em uma bolada. O empréstimo consignado é uma mina de ouro para os bancos e financeiras que conseguem se credenciar para oferecer dinheiro a servidores públicos e a aposentados. Porque é crédito com risco zero de inadimplência, já que o próprio governo desconta a parcela do salário ou do benefício. Isso explica por que os bancos assediam os aposentados e pensionistas com oferta de empréstimo e, não raro, quem encaminha um processo de aposentadoria começa a receber oferta de crédito consignado antes mesmo da confirmação do INSS de que seu processo está liberado.
A Operação Custo Brasil sugere que a Lava-Jato pode até reduzir seu ritmo, mas a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, a Receita Federal e a Justiça continuarão mobilizados para desvendar os subprodutos das delações premiadas. Quem financiou campanhas com recursos de origem duvidosa tem bons motivos para dormir preocupado com o risco de acordar com a PF tocando a campainha para anunciar a prisão.
O impacto da prisão de Paulo Bernardo se amplifica porque ele foi ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff e marido da senadora Gleisi Hoffmann, uma das mais aguerridas defensoras da presidente afastada na comissão de impeachment. Outro que teve a prisão decretada, o gaúcho Paulo Ferreira, é casado com a ex-ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello.
O fato de Paulo Bernardo ter sido preso no apartamento funcional em que a família mora porque Gleisi é senadora provocou protestos no Senado. Até os adversários mais ferrenhos do PT, como Cássio Cunha Lima, sustentaram que a polícia só poderia ter entrado no apartamento com autorização do Supremo Tribunal Federal.