A Operação Carbono 14 pode ser resumida como o encontro de dois escândalos: a corrupção na Petrobras e o mensalão. É a convergência de dois rios de lama que têm em comum denúncias de pagamento de propina e de financiamento irregular de campanhas eleitorais, mas amplia o olhar para um episódio até hoje não totalmente esclarecido, o assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André.
Como o PT está no centro dos dois escândalos, personagens do mensalão reapareceram nesta fase da Lava-Jato: o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, preso e levado para Curitiba, e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, ouvido e liberado.
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Condenado no mensalão, Delúbio cumpriu pena e está em liberdade. Silvio Pereira foi um personagem menor. Ficou conhecido como Silvinho Land Rover, por ter recebido um carro dessa marca da GDK, uma fornecedora da Petrobras. Saiu do PT, fez um acordo com o Ministério Público, prestou serviços comunitários e estava esquecido até a Polícia Federal bater em sua casa com uma ordem de prisão assinada pelo juiz Sergio Moro.
Os líderes petistas têm bons motivos para se preocupar com uma possível delação premiada de Silvinho. Diferentemente de José Dirceu, um homem forjado na luta armada, Silvinho é considerado um homem frágil, que pode não resistir à pressão psicológica de algumas semanas de prisão. Pelas posições que ocupou, é um arquivo vivo.
O enredo se liga a outro episódio explosivo, a morte de Celso Daniel, pela entrada em cena de outro personagem, o empresário Ronan Maria Pinto, dono do jornal Diário do Grande ABC, que se tornou conhecido à época da morte de Celso Daniel.
Em 2012, o publicitário Marcos Valério, condenado à maior pena no julgamento do mensalão, contou ao Ministério Público Federal que repassou R$ 6 milhões em 2004 para calar Ronan Pinto, que teria chantageado o então presidente Lula, o secretário da Presidência à época, Gilberto Carvalho, e o ex-ministro José Dirceu.
Sequestrado depois de jantar com um amigo em um dos restaurantes mais tradicionais de São Paulo, foi levado para um cativeiro, torturado e morto. A investigação policial concluiu que o prefeito de Santo André foi vítima de um crime comum. Do ponto de vista político, Celso Daniel é um corpo insepulto. Sua família sempre levantou a suspeita de que tenha sido assassinado por motivos políticos e nunca se conformou com a conclusão da polícia de São Paulo. O irmão de Celso Daniel acusou dirigentes petistas de terem mandado matar o ex-prefeito para encobrir esquemas de corrupção.
O caso Celso Daniel estava encerrado em todas as instâncias. Não foi desenterrado com a operação de ontem, mas reabriu feridas que ainda não tinham cicatrizado. A ligação está implícita no nome da operação. A escolha por Carbono 14 contém a resposta para a pergunta sobre aonde a Lava-Jato quer chegar: o esclarecimento de um caso antigo.
Os líderes petistas entenderam o recado e reagiram com a indignação habitual, acusando o juiz Sergio Moro e os investigadores da Lava-Jato de estarem perseguindo o ex-presidente Lula.