Se a presidente Dilma Rousseff embarcar nesta articulação de líderes do PT e nomear o ex-presidente Lula ministro para garantir o foro privilegiado na investigação da Lava-Jato, será melhor renunciar ao mandato para preservar a biografia. Nos bastidores, a informação é de que Dilma foi convencida pelos líderes petistas a aceitar Lula como ministro, mas que ele ainda não respondeu se aceita. O risco que a presidente corre, se embarcar nessa canoa, é de dar gás para o processo de impeachment.
A articulação por si só é um desrespeito ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ao próprio Supremo Tribunal Federal. Pressupõe que Janot seria condescendente com o ex-presidente e que o Supremo, com a maioria dos ministros indicados por ele ou por Dilma, rejeitaria a investigação. O próprio Lula deve estar refletindo se vale a pena fugir da jurisdição do juiz Sergio Moro, a quem o PT acusa de agir por motivação política, e correr o risco de enfrentar uma denúncia no Supremo, instância única de julgamento para quem tem prerrogativa de foro. Além disso, o foro privilegiado não se estenderia à família do ex-presidente.
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Se a indicação já era estranha por coincidir com o momento em que a força-tarefa da Lava-Jato está debruçada sobre o material que recolheu no Instituto Lula, no apartamento dele e em outros endereços usados pelo ex-presidente, pior ficou com a denúncia do Ministério Público de São Paulo. Como já havia anunciado antes de ouvir a defesa do ex-presidente, o promotor Cassio Conserino o denunciou por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Lula só se tornará réu se a Justiça aceitar a denúncia.
Sugerir a indicação de Lula para o Ministério da Justiça é uma hipótese tão absurda, que só pode ser interpretada como manobra diversionista. Lula, investigado na Operação Lava-Jato, virar chefe da Polícia Federal seria a legítima piada pronta. As especulações sobre um possível ministério para Lula incluem o Itamaraty e a Articulação Política, hoje comandada por Ricardo Berzoini, que ontem alimentou a boataria ao dizer que ter Lula no ministério seria para um governo como ter Pelé em um time de futebol.