Batizada de Acarajé, a 23ª fase da Operação Lava-Jato mira nas campanhas eleitorais do PT, embora os delegados da Polícia Federal e procuradores do Ministério Público federal repitam à exaustão que não investigam campanhas. É um jogo de palavras. Campanhas eleitorais são da seara da Justiça Eleitoral, mas, obviamente, ao seguir a trilha do dinheiro, a força-tarefa da Lava-Jato pode chegar ao financiamento das campanhas. Marketing político é a atividade principal do publicitário João Santana, que só não foi preso junto com a mulher e sócia, Mônica Moura, porque os dois estão na República Dominicana.
Objetivamente, o que os investigadores têm contra João Santana é a descoberta de depósitos feitos por uma empresa da Odebrecht a uma offshore de propriedade do publicitário e de sua mulher. Como Santana faz campanhas eleitorais dentro e fora do Brasil, incluindo países onde a Odebrecht tem negócios, é possível que os pagamentos se refiram a serviços prestados no Exterior, mas até aqui o que existe é uma enorme área de sombra que precisa ser iluminada. No momento, ele trabalha pela reeleição do presidente da República Dominicana.
Os detalhes da Acarajé ainda estão sendo apresentados, mas o que já foi divulgado é suficiente para provocar indigestão na presidente Dilma Rousseff, no prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, no ex-presidente Lula e em outros integrantes da cúpula do PT. João Santana recebeu, legalmente, milhões de dólares pelas campanhas que fez para candidatos do PT. Por isso, os investigadores ficaram intrigados com os pagamentos ilegais feitos pela Odebrecht. Só Santana e mulher poderão esclarecer a que se referem esses pagamentos que a força-tarefa desconfia sejam relativos a campanhas eleitorais "de partidos políticos".
Na vida de Dilma, a importância de João Santana vai além das campanhas eleitorais vitoriosas. Ele é um dos principais conselheiros de Dilma. Chega a ser chamado de "ministro da propaganda", um cargo que não existe na estrutura do Palácio do Planalto. Na prática, é a Santana que Dilma recorre nos momentos em que precisa fazer uma manifestação pública. Foi Santana o cérebro por trás do processo de desconstrução da candidata marina Silva na eleição de 2014.
Ao trazer João Santana para para o centro da Lava-Jato, com pedido de prisão temporária, busca e apreensão de documentos, pode turbinar o processo que tramita no Tribunal Superior Eleitoral e ameaça o mandato de Dilma. De todas as fases da Lava-Jato até agora, esta é a que contém mais elementos explosivos para governo Dilma.