O vazamento seletivo de trechos da delação premiada de Nestor Cerveró, que está sob sigilo, criou o efeito gangorra na guerra entre PT e PSDB. Um dia depois da publicação, pelo jornal Valor Econômico, do pedaço em que Cerveró citava propina de US$ 100 milhões para "o governo Fernando Henrique Cardoso", na compra de uma empresa de petróleo da Argentina pela Petrobras, o alvo dos novos trechos é o ex-presidente Lula. Cerveró dá uma no cravo, outra na ferradura. Num dia, o depoimento excita os petistas, no outro, os tucanos.
Cerveró disse na delação que sua indicação para a Diretoria Financeira e de Serviços da BR Distribuidora, em 2008, teria sido feita por Lula em reconhecimento pela ajuda na contratação da empresa Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000. O negócio ainda teria envolvido propina de US$ 25 milhões.
A indicação, segundo Cerveró, foi um pagamento pela "quitação de um empréstimo do PT perante o banco Schahin, garantido por José Carlos Bumlai".
Os depoimentos do ex-diretor têm pontos de intersecção com a delação premiada do lobista Fernando Baiano. As histórias se cruzam, por exemplo, quando se fala da influência do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Baiano contou que procurou ajuda de Bumlai e de outro lobista para tentar garantir a permanência de Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobras. As gestões fracassaram e Cerveró acabou premiado com uma diretoria na BR Distribuidora.
A delação de Baiano também faz referências à entrega de dinheiro para a campanha da presidente Dilma Rousseff, em 2010. O lobista diz ter participado da reunião em que outro ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, acertou o repasse de R$ 2 milhões com o ex-ministro Antonio Palocci.
As delações premiadas são pontos de partida e não de chegada da investigação. Cabe à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal separar o joio do trigo, buscar provas e jogar luzes sobre as pistas semeadas pelos delatores. Vale lembrar que o acordo só produz efeitos se a investigação confirmar que o delator deu informações verdadeiras.