A memória do celular do empresário Léo Pinheiro, dono da OAS, é uma pequena enciclopédia das relações entre políticos e financiadores de campanha. Mensagens telegráficas trocadas entre Pinheiro e políticos, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, ajudam a Polícia Federal a montar o quebra-cabeça das relações.
A intimidade entre políticos e empreiteiros é antiga e nunca foi considerada problema. Sempre se soube que empreiteiras e bancos estão entre os principais financiadores das campanhas eleitorais. O problema é que depois da Operação Lava-Jato até uma mensagem do tipo “Feliz Ano-Novo” passou a ser considerada suspeita. E o que antes eram doações legais, registradas na Justiça Eleitoral, hoje são contribuições embrulhadas no manto da desconfiança. Está difícil separar as doações legais e legítimas da propina disfarçada.
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Léo Pinheiro e Jaques Wagner são conterrâneos. É natural que um dos maiores empresários da Bahia tivesse linha direta com o governador, inclusive para tratar de financiamento de campanhas. Não é diferente no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, em São Paulo ou em Minas Gerais. Os diálogos vazados de Wagner com Pinheiro não têm conteúdo comprometedor. O problema do chefe da Casa Civil é outro: a suspeita de que na campanha de 2006 recebeu dinheiro da Petrobras, por meio de Nestor Cerveró. O ministro nega, mas o vazamento das informações é um problema a mais para a presidente Dilma Rousseff, porque envolve o encarregado da articulação com o Congresso, peça-chave no esforço de barrar o impeachment.
O conteúdo do chip do celular de Léo Pinheiro é mais preocupante para Eduardo Cunha. Mesmo sucintas, as mensagens trocadas entre os dois revelam pressão pela liberação de doações para líderes do PMDB e, o que é pior, tráfico de influência.
Os investigadores concluíram que, em conversas com Cunha, a OAS orientava as emendas em medidas provisórias de interesse das empreiteiras e que as empresas chegavam a redigir projetos. "O projeto era apresentado, por diversas vezes, por meio de algum deputado ligado a Cunha, para não vinculá-lo diretamente", diz a investigação.