Era previsível que Eduardo Cunha reagisse como um homem-bomba à decisão do PT de apoiar sua cassação no Conselho de Ética, mas a aceitação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff acabou pegando o Brasil de surpresa. Antes de se explodir, Cunha tenta implodir o mandato de Dilma, aproveitando que ela amarga índices recordes de impopularidade.
Se não fosse a combinação de duas crises, uma política e outra econômica, um pedido de impeachment conduzido por alguém com a folha corrida de Eduardo Cunha teria poucas chances de prosperar. No cenário atual, a oposição fecha os olhos para as acusações que pesam contra o parlamentar. Ele fez o que a oposição queria: abriu as portas do inferno para Dilma.
A presidente reagiu declarando guerra. Em uma breve manifestação, disse que não tem contas no Exterior, não omitiu patrimônio e não usou o cargo para coagir ninguém. Acrescentou que jamais concordaria com qualquer tipo de barganha com o presidente da Câmara e repetiu que não há nenhuma acusação de envolvimento pessoal dela em irregularidades.
O PMDB, partido de Eduardo Cunha e do vice-presidente Michel Temer, será decisivo para o futuro de Dilma. A reação imediata de Temer foi se solidarizar com Dilma, mas o partido tem pronto um plano para aplicar em caso de afastamento da presidente. Chamado de “Uma ponte para o futuro”, o documento do PMDB é um plano de voo para Temer em caso de aprovação do impeachment.
Nos bastidores, os líderes do PMDB vêm conversando com parlamentares do PSDB e de outros partidos de oposição sobre o que seria um governo “pós-Dilma”. Cogita-se até da escolha do tucano José Serra para o Ministério da Fazenda.
Um dos caciques do PMDB diz nas rodas de amigos:
– Sou parceiro nas dificuldades, vou ao velório, choro, seguro a alça do caixão, mas, na cova, não entro.
O destino da presidente está atrelado à crise econômica, que não dá sinais de recuar. Inflação alta, PIB em queda e aumento do desemprego corroem a popularidade, mas as denúncias de corrupção pesam. E muito. A prisão do líder do governo, Delcídio Amaral, foi a gota d’água em um copo que estava prestes a transbordar.
Mesmo que não existam acusações diretas contra ela, Dilma paga pelos próprios equívocos e omissões e também pelos erros de Lula, do PT e dos que caíram na rede da Lava-Jato.