Fortalecido pela aliança branca com a oposição e beneficiado pela leniência de seu partido, o PMDB, Eduardo Cunha conseguiu sucesso em mais uma manobra para atrasar, no Conselho de Ética, o processo que pode resultar na cassação de seu mandato. Errou quem apostou que as fartas provas apresentadas contra ele pelo Ministério Público reduziriam seu poder na Câmara. Além de não avançar, o processo no Conselho de Ética deu dois passos atrás.
Em uma demonstração de que segue dando as cartas, Cunha conseguiu destituir o relator Fausto Pinato (PRB-SP), que propôs a cassação de seu mandato. Com a nomeação de novo relator, ele ganha tempo e amplia as chances de chegar até o recesso sem que seja aprovada a admissibilidade do processo por quebra de decoro parlamentar. Sempre invocando o regimento, que conhece melhor do que a maioria dos colegas, Cunha conseguiu interromper a sessão do Conselho de Ética em plena votação.
Foi mais um dia de bate-boca e gritaria. O presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), usou a palavra golpe para definir a mais nova manobra do presidente da Câmara.
Os métodos de Cunha são comparados aos usados por gângsteres. Destituído do cargo de relator, Pinato disse que teve medo de ser morto por seu parecer favorável à cassação do presidente da Câmara por quebra de decoro. O ex-relator saiu do anonimato para uma notoriedade incômoda: hoje precisa andar em carro blindado e com escolta policial. Cunha virou alvo de representação por ter mentido na CPI da Petrobras, quando disse que não tinha contas no Exterior. Se havia alguma dúvida sobre quem manda na banda do PMDB na Câmara, Cunha defez.
Com o apoio de Michel Temer e dos deputados do PMDB que trabalham pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, articulou a destituição do líder da bancada, Leonardo Picciani, que estava fechado com o governo. O gaúcho Osmar Terra foi um dos articuladores da substituição de Picciani por Leonardo Quintão.
Cunha também suspendeu as votações na Câmara até o dia 16, quando o STF decidirá sobre o rito de nomeação da comissão do impeachment, interrompida por liminar do ministro Edson Fachin.