Não há o que vasculhar nas entrelinhas do discurso do governador José Ivo Sartori, que, ao falar sobre as dificuldades do Estado para pagar os salários, afirmou: os servidores devem dar graça a Deus porque têm estabilidade. O que Sartori quis dizer é isso mesmo: se não existisse o instituto da estabilidade, o Estado faria o que as empresas privadas estão fazendo para enfrentar a crise: demissões para adequar a despesa à receita.
A frase completa, dita na solenidade de assinatura de contratos de financiamento de energia renovável junto ao BRDE foi:
– Ainda hoje numa reunião com os servidores eu disse: "vocês às vezes reclamam porque têm penalização, às vezes parcelou salário, às vezes não receberam em dia. Deem graças a Deus que vocês têm estabilidade, que têm garantia no trabalho. Agora os outros que estão perdendo o emprego e não têm oportunidade, o que nós estamos fazendo aqui? É tentar movimentar a economia, dar oportunidade de ter mais trabalho e mais renda porque, afinal, o poder público também tem que se mudar."
Nos bastidores, secretários do governador admitem que o Estado teria de demitir funcionários concursados para equilibrar as contas, mas não pode fazê-lo porque a lei não permite. Existe a figura da demissão por insuficiência de desempenho, mas, na prática, nunca foi aplicada, porque o Estado carece de um sistema de avaliação dos seus servidores.
Secretários próximos do governador têm convicção de que, com uma reorganização administrativa, em boa parte das áreas o Estado poderia oferecer os mesmos serviços com a metade dos servidores. Como não tem dinheiro para pagar os que já estão na máquina do Estado, Sartori optou por frear as nomeações, motivo de constantes protestos dos aprovados em concursos públicos realizados no governo anterior.