Até que enfim, o PSDB se convenceu de que o barco de Eduardo Cunha é uma canoa furada ou, talvez, um Titanic ao encontro do iceberg. Desembarcou para não ficar vendo a orquestra tocar enquanto o navio aderna, sabendo que não haverá botes salva-vidas para todos. A aliança de ocasião que fazia os tucanos relevarem e até apoiarem algumas das pautas-bomba de Cunha se desfez diante das provas de que ele tem contas secretas na Suíça, abastecidas com dinheiro de origem suspeita.
Como as explicações do presidente da Câmara só fizeram aumentar a percepção de que mentiu na CPI da Petrobras e que recebeu depósito milionário de um lobista da Lava-Jato, ficou impossível para o PSDB manter o jogo duplo de cobrar com uma mão e afagar com a outra. Cunha era útil ao PSDB quando se imaginava que teria força para conduzir o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O deputado vem jogando com essa carta para se fazer importante e não ser descartado pelos opositores de Dilma.
Os tucanos perceberam que não pega bem entre seus eleitores uma sociedade com o homem que nega ser o dono do dinheiro depositado na Suíça e se declara “usufrutuário”, como se fosse possível usufruir de moeda e mantê-la intacta. Para não se contaminar mais com o desgaste de Cunha, os líderes do PSDB estão reescrevendo o roteiro das relações com o ex-todo-poderoso presidente da Câmara. Sabem que, por maior que seja o desgaste do governo Dilma, um processo de impeachment conduzido por alguém na situação de Cunha está fadado ao fracasso.
É verdade que na eleição de Cunha o PSDB apoiou outro candidato, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), mas aliou-se ao vencedor logo depois da eleição, inclusive na votação de propostas que contrariam o ideário tucano. Foi nessa balada que parlamentares do PSDB renegaram propostas do governo Fernando Henrique Cardoso, como o fator previdenciário, e ajudaram a derrotar o governo do PT.
O desembarque do PSDB não é garantia de que Cunha será afastado. Ele ainda tem seu exército, formado por deputados que ajudou a eleger, conhece como poucos as engrenagens que movem a Câmara e conta com o tempo para salvar o cargo e o mandato.