No refrão de Ideologia, uma de suas mais conhecidas canções, o irrequieto Cazuza cantava: "Meus heróis morreram de overdose/ Meus inimigos estão no poder/Ideologia/Eu quero uma pra viver/Ideologia/Eu quero uma pra viver". Os gurus de uma geração obcecada pelo sucesso fácil nos negócios não morreram de overdose, como os heróis de Cazuza, mas foram à lona. Três exemplos: Daniel Dantas caiu numa investigação da Polícia Federal em 2008, Eike Batista quebrou e André Esteves está na cadeia, cumprindo rotina idêntica à dos maiores empreiteiros do país, entre os quais o antes incensado Marcelo Odebrecht.
Revisitar as capas de revistas dos últimos 15 anos ou rememorar as palestras mais disputadas no Brasil é um exercício curioso nestes tempos de Lava-Jato. São mitos que caem no capitalismo brasileiro como caíram as estátuas de Lênin após a derrocada do comunismo. Aqueles jovens e bem-sucedidos executivos, que com mãos de Midas transformavam em ouro o que tocavam, deixaram órfãs legiões de admiradores de sua ousadia
. Quem hoje pararia para ouvir os conselhos de Eike Batista? No livro Tudo ou Nada, escrito pela jornalista Malu Gaspar e publicado em 2014, fica muito claro como Eike conseguiu, com sua lábia, enganar jornalistas, executivos de bancos, políticos, investidores brasileiros e estrangeiros. André Esteves, várias vezes capa de revistas por ter passado de office boy a dono de banco e virado bilionário antes dos 40 anos, passou o fim de semana em Bangu 8, um dos presídios mais famosos do Brasil. Com a transformação da prisão temporária em preventiva, de lá não deve sair tão cedo.
O que têm em comum esses personagens do mundo empresarial que passaram do topo ao limbo? Todos apostaram numa espécie de capitalismo sem risco, alicerçado em relações espúrias com o poder. Na origem dessas relações está, mais uma vez, o financiamento das campanhas eleitorais, que liga políticos e empresários pelo dinheiro. As doações milionárias das empreiteiras não saíam do lucro, mas do sobrepreço aplicado nas obras públicas e redistribuído em forma de suborno.