Foi esclarecedora a entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao programa Gaúcha Atualidade, na manhã de sexta-feira. Além de explicitar o que quer dizer com a sugestão dada à presidente Dilma Rousseff, de renunciar ao cargo em um "gesto de grandeza", FHC antecipou outros temas que terão destaque nos próximos volumes de suas memórias. Admitiu que é impossível governar o Brasil sem o toma lá dá cá, mas ressalvou que essa concessão ao fisiologismo vale a pena quando está em jogo uma causa maior.
Em livre tradução: os fins justificam os meios.
Mais do que deselegante, a renúncia sugerida por Fernando Henrique é uma utopia. No roteiro imaginado pelo ex-presidente, Dilma diria ao Congresso que aceita antecipar sua saída do Palácio do Planalto em troca da aprovação das reformas que estão emperradas. Reformas difíceis de aprovar, como a política, a da previdência e a do sistema tributário. Alguém imagina que este Congresso, com todas as deformações conhecidas da população, seja capaz de aprovar reformas em troca da renúncia pura e simples de Dilma?
FHC voltou a dizer que considera Dilma uma mulher honrada, mas não identifica nela condições políticas para levar o governo adiante. Perguntado se aceitaria conversar com a presidente, se fosse convidado, respondeu sem pestanejar: a qualquer momento.
Pelo que disse na entrevista, fica claro que é FHC não simpatiza com o impeachment. Diz que o processo é longo e penoso, com reflexos negativos na economia.
O ex-presidente só mostrou desconforto ao falar sobre a Petrobras. Interrompeu a pergunta ao ser lembrado do alerta feito por Benjamin Steinbruch, de que a estatal era "um escândalo". Reafirmou que os problemas eram apenas administrativos e refutou as acusações do jornalista Paulo Francis, que falava abertamente em corrupção na Petrobras e foi processado pelo então presidente Joel Rennó. Disse que Francis fez acusações sem prova e, por isso, mesmo sendo amigo do jornalista, não conseguiu convencer Rennó a desistir do processo. Francis morreu antes de ser julgado.