O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Em novembro de 2025, o Brasil será palco da COP30, Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Diante da chegada do evento, o Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty) aponta que há, atualmente, sobrecarga de trabalho devido a deficiências estruturais e orçamentárias da pasta, o que pode comprometer o evento e o bem estar do servidor.
— Há uma quase nula preocupação com o que é necessário para o servidor fazer o seu trabalho. Nós não temos sequer gente suficiente para trabalhar nas atividades diárias do Itamaraty. Quando chegam eventos, eles absorvem parte desse pessoal — explica Ivana Vilela, presidente do sindicato e Oficial de Chancelaria do Itamaraty.
A presidente afirmou que, no mais recente evento oficial, que foi o G20 no Rio de Janeiro, houve relatos de servidores que trabalharam 20 horas.
Outra reclamação que a presidente do sindicato aponta é para o uso do celular. Segundo ela, em missões oficiais não há um aparelho exclusivo para o trabalho e o servidor muitas vezes utiliza o próprio.
A Oficial do Itamaraty aponta que hoje o contingente de trabalhadores é um terço da demanda necessária para os eventos e por isso alertam para a chegada da COP30.
O que diz o Itamaraty
Em nota à coluna (veja completa abaixo), o Itamaraty informou que não recebeu relato sobre sobrecarga de trabalho, contudo admite que há déficit de servidores. Também afirmou que as novas contratações são realizadas por meio de concurso e os processos anuais.
Sobre o relato de 20 horas de trabalho durante o G20, o Itamaraty afirmou que não há registro do tipo e que eventos multilaterais e cúpulas podem exigir maior dedicação dos funcionários e se tratam de eventos “excepcionais”.
Por fim, afirmou que o governo brasileiro estará em condições de organizar a COP-30.
Veja o posicionamento
“Estão cientes desses relatos de sobrecarga de trabalho?”
O Itamaraty não recebeu relato formalizado sobre o assunto.
“Há defasagem de servidores? Há expectativa de novas contratações?”
Há déficit de servidores nas três carreiras do Serviço Exterior Brasileiro. Dos 1701 cargos de diplomata existentes, 1574 estão ocupados (vacância de 7%); dos 1000 cargos de oficial de chancelaria existentes, 787 estão ocupados (vacância de 21%); por fim, dos 1155 cargos de assistente de chancelaria existentes, 354 estão ocupados (vacância de 69%).
Cabe ressaltar, ainda, que nos últimos dez anos houve redução de 28% do corpo de servidores administrativos (em 2014 eram 1885 e neste ano são 1358).
As novas contratações são realizadas por meio de concurso público. Os Concursos de Admissão à Carreira de Diplomata, anuais, bem como o concurso para provimento de 50 cargos de oficial de chancelaria, concluído neste ano, não foram suficientes para suprir a carência de pessoal.
“Ocorreu (sic) episódios de trabalho de 20 horas durante o G20?”
Não há registro de nenhum servidor que tenha cumprido jornada de trabalho de 20h ininterruptas.
Eventos multilaterais e cúpulas que envolvem participação de diversos líderes de Estado, como é o caso do G20, requerem preparação, esforço de prontidão e atuação de grande número de servidores do MRE, podendo exigir maior dedicação do corpo de funcionários. Na Cúpula do G20, foram recebidas, no Rio de Janeiro, 54 delegações estrangeiras, majoritariamente chefiadas por Chefes de Estado e de Governo, bem como pelas máximas autoridades de Organismos Internacionais. O comparecimento em tão alto nível ensejou o credenciamento de mais de 2000 profissionais de imprensa, de todo o mundo, dos quais 1750 cobriram a reunião a partir do Centro Internacional de Mídia, montado especialmente para esse fim. Evento de tal magnitude demanda cargas horárias de trabalho superiores ao habitualmente cumprido na Secretaria de Estado.
Eventos dessa natureza tendo o Brasil como sede, contudo, são excepcionais, não constituindo o cotidiano e a rotina regular dos servidores do Ministério.
“É possível explicar melhor as duas modalidades das diárias?"
A concessão de diárias no âmbito da administração pública federal é regulamentada pelo Decreto 5.992/2006 e os valores das diárias estão previstos em seu Anexo I.
O decreto estabelece que as diárias “serão concedidas por dia de afastamento da sede do serviço, destinando-se a indenizar o servidor por despesas extraordinárias com pousada, alimentação e locomoção urbana”.
O decreto prevê, ainda, que o “servidor fará jus somente à metade do valor da diária” quando “a União custear, por meio diverso, as despesas de pousada”. Portanto, quando a hospedagem é paga diretamente pela União, o servidor recebe apenas metade do valor da diária prevista no Anexo I do referido decreto.
“ Há um planejamento quanto a operacionalização da COP30?”
A exemplo do que ocorreu no G20 e em muitos eventos anteriores, como a Rio-92 e a Rio + 20, o governo brasileiro estará em condições de organizar a contento a COP-30, pela primeira vez na Amazônia, para que representantes do mundo inteiro conheçam “in loco” a realidade dessa região vital para o planeta.