Em junho de 2012, estive conheci uma espécie de museu do Hezbollah. O título da reportagem que publiquei em ZH naquele 3 de junho era "A disneylândia da milícia". Hoje, me arrependo daquela frase: a Disney é fantasia, é sonho, é paz. O Hezbollah é guerra, morte e desolação.
Não daria esse título àquele espaço atualmente. Nos dias em que estive lá, vi deboche e provocação. O grupo terrorista libanês construiu um gigantesco museu para celebrar suas vitórias militares contra Israel. Trata-se de um ode à morte.
O local fica no alto da montanha de Mleeta, quase na fronteira com Israel, a céu aberto. À epoca, o preço do ingresso custava o equivalente a R$ 1,35, com direito a um guia que se encarregava de fazer valer a versão da milícia, um poder paralelo dentro do Estado libanês, algo como os traficantes no Brasil. É um dos mais esdrúxulos museus do mundo: no terreno de 60 mil metros quadrados, esparramam-se tanques israelenses Merkava, jipes enferrujados, botas enrijecidas pela ação do tempo e capacetes de militares israelenses.
O aspecto gigantesco lembra aquelas estruturas mastodônticas soviéticas ou da Alemanha oriental. Uma das imagens mais provocativas era de um tanque israelense cujo canhão estava retorcido, como se mão de um gigante tivesse dado um nó na estrutura. O terreno fica na área chamada "abismo", composta também por uma amostra do arsenal da guerrilha: à época, foguetes Katiusha e mísseis iranianos Raad 1, todos esses, hoje, obsoletos diante do Iron Dom (o Domo de Ferro), o sistema de defesa antiaéreo israelense, e da tecnologia que posiciona os aiatolás, aliados dos terroristas, muito próximos de possuírem a bomba atômica.
Esse museu foi inaugurado em 2010, a um custo de US$ 4 milhões. Ali, é também possível conhecer como cerca de 7 mil guerrilheiros do Hezbollah se mimetizam à floresta, cavavam trincheiras e construindo uma rede de túneis que os permite viver durante meses nos subterrâneos. Em um deles, estava preservado o bunker de Abbas Musawi, fundador do grupo. Agora, em 2024, soube, lá no dedo da Galieia, no extremo norte de Israel, que algumas dessas tocas fora, encontradas ao lado de populações israelenses. O objetivo, por certo, não era nobre. Era a morte.
Lembro que, à época minha segunda incursão no sul do Líbano, não buscava apenas entender a ação da guerrilha. Queria visitar Qana, um vilarejo o qual eu havia visitado na guerra de 2006 e onde 19 mulheres e crianças haviam sido mortas em bombadeio israelense. Voltei ao local do desastre, mas ali perto encontrei o memorial. Era um museu, um parque temático. Depois de tudo o que vi, ouvi e fotografei, com direito à loja de suvernires com produtos de gosto duvidoso - com canecas, camisetas, cintos com a figura de Hassan Nasrallah -, saí convencido de que aquela era a celebração da morte.