Nos últimos dias o conflito no Oriente Médio cresceu em escala e proporção. Israel realizou um ataque aéreo na sexta-feira (27) em Beirute, no Líbano, que resultou na morte Hassan Nasrallah, líder do grupo extremista Hezbollah.
A coluna está em viagem para Tel Aviv e conversou com major Rafael Rozenszajn, brasileiro e advogado em Israel, que atua há 16 anos nas Forças de Defesa de Israel (FDI).
As ações que estão ocorrendo são limitadas ou em várias frentes?
Israel está sendo atacado em sete frentes diferentes. No 7 de outubro, o território israelense foi investido pelos grupos terroristas Hamas e a Jihad Islâmica. Foi o maior ataque da história do país e me permito falar que foi um dos maiores do mundo, se não o maior da história da humanidade. Foram cerca de 1,2 mil pessoas assassinadas, 5,5 mil ficaram feridas e 251 pessoas foram sequestradas por faixa de trânsito. A população de Israel, que é de 9 milhões de habitantes, mais ou menos 7 milhões de judeus, e de cada mil pessoas no território israelense, uma pessoa foi diretamente afetada. Ou seja, a cada mil pessoas, uma foi sequestrada, ficou ferida ou foi assassinada. É muito difícil você encontrar uma família aqui que não tenha um parente, um amigo próximo, um vizinho que não foi afetado. E para se ter ideia, se isso acontecesse no Brasil, que tem uma população de mais de 1,2 milhões de habitantes, afetaria 160 mil pessoas. Tente imaginar o Maracanã lotado. 100% de lotação máxima. 80% são fuzilados, mas não morrem, ficam feridos. Outros 16% são assassinados e 4% são sequestrados. Agora multiplica isso por dois. Isso foi o que aconteceu aqui no 7 de outubro. No 8 de outubro, um dia depois, o Hezbollah decidiu se juntar ao Hamas. E, desde então, o Hezbollah já lançou em direção a Israel mais de 9 mil mísseis, foguetes e aviões não tripulados em direção ao nosso território. No Líbano, que teve uma escalada nos últimos dias, mais de 60 mil civis tiveram que evacuar suas casas, porque todos os dias o Hezbollah lança dezenas e centenas de mísseis em direção às suas casas. Nesses últimos mais de 11 meses, foram 5 mil casas no norte de Israel que foram diretamente afetadas pelos mísseis do Hezbollah. Mais de 3 mil veículos que foram afetados. Então, não tem nenhum país soberano do mundo que aceitaria uma situação como essa, que tivesse uma ferida enorme na sua integridade territorial. O exército colocou um novo objetivo nessa guerra de trazer de volta os nossos sequestrados e desmantelar a capacidade terrorista do Hamas. O novo objetivo é permitir que os deslocados do Norte possam voltar para suas casas em segurança. E o exército está fazendo tudo o que for necessário para concretizar esse objetivo. Isso é o que nós estamos fazendo nesse momento.
E os civis mortos no Líbano?
Antes de mais nada, tem que ser dito que para nós, aqui no exército de Israel, a morte ou o dano a qualquer civil é uma tragédia. Mas para os terroristas, isso faz parte da estratégia deles. Realmente, quando eu vejo uma criança valendo o preço dessa guerra, uma mulher que não tem nada a ver com essa guerra, o sangue do meu coração sai em direção a essas pessoas. Nós ficamos tristes. Mas é muito importante para todos entenderem que para os terroristas, o alvo deles são nossos civis. Eles lançam foguetes em direção às casas da nossa população. Invadiram o território, entraram numa festa e assassinaram 350 civis que estavam dançando. Invadiram 20 comunidades e assassinaram centenas de pessoas que estavam nas suas camas, inclusive crianças. Estupraram mulheres. Esse é o alvo dos terroristas. Em nenhum momento os civis são os nossos alvos. Nossos objetivos são de terroristas, armamentos utilizados por eles, principalmente os seus mísseis, ou locais utilizados por eles. E nós fazemos tudo o que podemos para tirar os civis das zonas de combate e dos locais que serão atacados pelo exército israelense. Como fazemos isso? Ligamos, mandamos panfletos, até entramos numa rádio no Líbano para advertir a população a sair de todas as casas. E em todas as mídias disponíveis nós avisamos para as pessoas evacuarem as zonas de combate. Agora, não temos nada o que fazer quando os terroristas utilizam esses civis como escudos humanos, como parte da estratégia. Primeiro, o exército é ético e moral, atua de acordo com as normas do direito internacional, então não vamos atacar locais se tiverem civis. E em segundo, se atacar e morrerem civis, isso será utilizado como pressão internacional em Israel para acabar com essa guerra. E as lideranças do Hamas e do Hezbollah batem palma, porque esse é exatamente o que eles querem, que Israel ataque. Só que qual é o outro lado da moeda? É dar imunidade aos terroristas. Se atuar dessa forma, o resultado é a eliminação do mapa. Se nós não atacarmos os alvos terroristas, eles utilizarão os mísseis e os aviões não tripulados com explosivos e foguetes, porque esse é o objetivo deles. Isso é o que as pessoas têm de entender. Não tem nada a mais que nós podemos fazer para minimizar os danos a civis. E posso garantir que se o exército israelense não atuasse dessa forma, os danos a civis seriam muito maiores.
Há planos para uma operação terrestre?
Nesse momento o exército israelense está atuando de uma forma cirúrgica e exata através da nossa força aérea, que inclusive nós conseguimos desmantelar a cadeia de comando do Hezbollah. Mas o Hezbollah continua a sua agressão contra o Estado de Israel, continua lançando foguetes todos os dias em direção ao nosso território.
O Hezbollah está mais enfraquecido?
Posso falar que foi muito enfraquecido tanto na questão da cadeia de comando da hierarquia, como também nos armamentos, tanto para neutralizar os mísseis direcionados ao nosso Estado. Mas, nos últimos dois dias foram 110 mísseis lançados em direção ao nosso território. Quer dizer: o Hezbollah continua sua agressão, mesmo estando enfraquecido. Então, o exército está pronto, está preparado para fazer o que for necessário para concretizar o objetivo dessa guerra, que é trazer de volta os nossos civis. Todas as operações necessárias estão em cima da mesa para serem utilizadas de acordo com a necessidade, mas o Estado Democrático de Direito, atuamos de acordo com as diretrizes do governo israelense. E de acordo com as decisões do governo, vamos atuar para colocar em prática as decisões.
O senhor disse que Israel atua segundo o direito internacional. Agora, ataques a países soberanos, como o Líbano, não viola esse direito?
Israel está atuando com legítima defesa. O grupo terrorista, o Hezbollah, através do país soberano, que é o Líbano, lançou 9 mil mísseis em direção ao território israelense. Estamos atuando para garantir a defesa dos nossos cidadãos. Isso está totalmente de acordo com as diretrizes do direito internacional, que é o direito de defesa, também acionado para impedir futuros ataques contra o território. O grupo também tinha intenção de continuar lançando mísseis, então o exército está atuando para tirar essa ameaça, para neutralizar essa ameaça, para que possamos retornar a nossa integridade territorial e permitir que todos os civis possam retornar para suas casas. É muito importante deixar claro que essa guerra não é contra o povo libanês. Da mesma forma como a guerra na Faixa de Gaza não é contra o povo palestino. Essa guerra é travada entre grupos terroristas que têm um objetivo: eliminar Israel do mapa, um Estado democrático de se defender, viver em paz e poder permitir que todos os nossos cidadãos possam voltar para suas casas com segurança. O que qualquer país soberano faria numa situação como essa.
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