O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Desde 28 de julho, o mundo acompanha o dia a dia da Venezuela e os desdobramentos de suas eleições. Apesar de o órgão de regulação eleitoral no país anunciar Nicolás Maduro como o grande vitorioso, são vários os países – incluindo o Brasil – que não reconheceram o pleito. Mas afinal: o que isso significa?
Para o professor de Relações Internacionais da ESPM de SP, Roberto Uebel, o fato envolve, principalmente, relações de poder e interesse, que variam de país para país.
– Cada um vai ter uma motivação diferente. O Brasil não reconhece, por exemplo, porque tem uma preocupação, sobretudo, fronteiriça, migratória e securitária. O Brasil é muito pragmático, ele entende que, se não reconhecer explicitamente a vitória do Maduro, a Venezuela vai retalhar, expulsar o embaixador, vai querer fechar a fronteira. E tem uma questão econômica muito importante, porque toda a energia que é consumida em Roraima vem de lá. Os Estados Unidos não reconhece, até por uma questão de princípios – explica Uebel – Os países europeus também não, por uma questão de respeito aos direitos humanos. E os países latinos vão muito na esteira – completa ele.
Já as consequências podem envolver relações governamentais.
– Para a Venezuela, acho que não tem explicitamente impacto direto, mas implicitamente tem, porque acaba banindo de fóruns internacionais, perde a sua capacidade de construir diálogo. Então, por exemplo, qualquer pleito que ela venha levar ao Conselho de Segurança, na Assembleia Geral da ONU, à OEA (Organização dos Estados Americanos), terá peso menor – argumenta o professor.
Ida de González para a Espanha
O candidato da oposição, Edmundo González, se exilou durante o fim de semana na Espanha. Ele estava com um mandado de prisão ativo. O professor acredita que o ato pode ter relação com a pressão internacional.
– O simples fato de o regime ter liberado Gonzalez para sair sem ser preso já é um indicativo de que a Venezuela está sofrendo esse tipo de pressão – explica Uebel. – Isso também respalda o comprometimento do governo com o direito internacional, vende a narrativa de que estão num ar de normalidade – completa.
Também, na opinião de Uebel, há um cálculo nos motivos para González ir à Espanha e não para outro país:
– Para manter um canal aberto do regime de Maduro com os países europeus. É muito subjetivo e está na lógica da anarquia do sistema internacional (quando não há uma potência hegemônica). Nações se movem por interesses e não é do interesse do Maduro isolar o país. A Espanha não tem relação comercial forte com a Venezuela, mas está representando a União Europeia.
Uebel também acredita que a ação dá proteção ao opositor e ele continua com a narrativa de que venceu. Ao mesmo tempo, se torna interessante ao governo venezuelano manter González distante.
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